segunda-feira, 24 de junho de 2013

“Viajar” nos torna melhores

Texto publicado no Jornal Opinião dia 21/06/2013

O prazer é uma necessidade humana, que permeia o equilíbrio de nossa saúde psíquica. Comer, dormir, fazer sexo, ter uma vida social, são algumas formas básicas de obter prazer. Porém, uma das formas mais refinadas e também revigorantes de prazer é o ato de viajar. Exercitam-se vários aspectos mentais, tais como a cognição, a capacidade de adaptação, a habilidade de se relacionar, compreender, tolerar, se comunicar, a facilitação da perda de medos,... Uma mente aberta, associada ao contato com novas experiências e culturas, pode agregar esses benefícios. Mais que um prazer, viajar pode ser um verdadeiro investimento em si mesmo.
Sair de sua casa, sua cidade, ou até país, para conhecer novos locais e pessoas, já demanda uma disposição para o novo. E o novo implica mudanças. Desde o trajeto inicial, já podemos trabalhar pontos importantes. Várias pessoas tem medo de viajar devido ao transporte – andar de avião para muitos é um pesadelo. Para outros, andar em rodovias ou estradas também é, seja de carona ou, principalmente, dirigindo. Assim, viajar pode dar uma chance de trocar esses medos por uma experiência maravilhosa, que pode se traduzir no admirar paisagens, ouvir músicas animadas, interagir com pessoas novas ou com as companhias durante no caminho. A hospedagem num ambiente novo, seja hotel ou casa de parentes ou conhecidos, também já ocasionará uma mudança de rotina, que pode gerar saudade ou vontade de modificar ou melhorar algo em sua casa.
Algumas pessoas, mais tímidas, a partir do contato com uma cultura diferente – culinária, natureza, animais, músicas, idiomas, esportes, jogos, passeios e pessoas com aparência e jeito de ser inusitado – poderão oportunizar com mais desprendimento relações, que vão desde a mais simples situação, como fazer compras ou tomar um café, até a construção de amizades mais sólidas. Afinal, pessoas diferentes requerem ações diferentes da nossa parte, logo alguma mudança no comportamento será inevitável. Também é possível melhorar nosso auto-conhecimento, a partir das reações que tivermos diante das novas experiências; e também agregar valores éticos e morais, com o aumento a tolerância a frustração e ao diferente, a diminuição de preconceitos, a capacidade de independência e de respeito ao próximo. Além disso, estando num local novo onde ninguém lhe conhece, pode ser mais fácil reinventar-se e até ousar mais.

Deixar a conhecida zona de conforto, inevitavelmente, gerará pensamentos, sentimentos e atitudes novas. Mais que uma aquisição de conhecimentos - que pode ser feita pela leitura de um livro, ao navegar na internet, ou numa aula - viajar é ir até lá e conferir, é sentir na pele. Permite-nos entrar em contato com o inédito, e a experiência do contato é insubstituível e necessária ao desenvolvimento e maturidade emocional. Viajar é mais que conhecimento, que lazer, que prazer, é um mergulho dentro de si, dos outros e do mundo. É certo que, após uma viagem feita com um coração aberto, não se pode voltar sendo o mesmo. Volta-se sendo melhor. 

domingo, 19 de maio de 2013

Podemos mudar quem somos?


      Texto publicado no Jornal Opinião dia 17/05/2013 

     
      Alguns pacientes, logo que chegam ao consultório de psicologia, fazem essa pergunta. Alguns já estão tão cansados de tudo, ou julgam que já cometeram ou sofreram tantos erros, que chegam sem “fé” - não conseguem mais acreditar numa melhora ou mudança, nem para os outros, nem para si mesmos e sequer para o mundo. Então nos questionam, “será que sou um caso perdido?”, ou “será que consigo mudar?”.
      Embora possa parecer uma questão mais filosófica que científica, a psicologia tem uma resposta contundente. “Sempre” e “nunca” são duas palavras que preferimos não usar, em grande parte das ocasiões, pois não somos seres “matemáticos”. Porém, podemos afirmar que para a maioria dos casos, há possibilidade sim de mudança, significativa, e resultados fantásticos. De megera, a gentil, de inconveniente a respeitosa, de chata a agradável, de insegura a confiante, de compulsiva a ponderada - a transformação pode ser estupenda, no entanto há três pré-requisitos para que ela aconteça: vontade, disciplina, e auto-conhecimento. 
para isso há psicólogas!
Busque ajuda se estiver difícil mudar
      
        A vontade é fundamental, mas nem sempre há “ânimo” suficiente. Por isso o processo de mudança requer certa disciplina, isto é, manter-se firme em momentos em que se possa escorregar. Entretanto, como eu disse antes, não somos exatos – e o entendimento das causas que podem nos levar a comportamentos disfuncionais, que em geral tem raízes profundas, é o ponto-chave de todo o processo. Falar, se escutar, e ter uma intervenção ou orientação psicoterapêutica, auxiliarão o paciente a se auto-conhecer, a desvendar seus motivos inconscientes para o comportamento desagradável, a ter um outro para motivá-lo e dar-lhe suporte emocional. Por isso a psicoterapia pode ser de grande ajuda, para não dizer que é até essencial, na obtenção de bons resultados.

        

        Logo, concluímos que este tripé – vontade, disciplina e auto-conhecimento – serão os alicerces para as mudanças positivas de comportamento. Também constatamos que dificilmente haverá um caso impossível de mudança, e que as chances de sucesso se amplificam com o acompanhamento psicológico. Pessoalmente, já tive o privilégio de acompanhar alguns pacientes não apenas mudarem alguns comportamentos, mas renascerem. Mudanças podem nos reestruturar, melhorar nossas relações e nos fazer evoluir. Acreditemos nelas, senão por fé, então por evidências científicas.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Intolerância gera email invadido!

Sou uma pessoa comum. No dia em que resolvi me posicionar na internet acerca de um assunto polêmico - o tal PDL 234/11 que impede a liberdade profissional do psicólogo em prol de ideologias e não de ciência - priu! invadiram meu email.

Pensei, a princípio, que fosse um vírus qualquer. Mas para minha sorte, meu marido é um crânio na área e constatou que sim, alguém invadiu minha conta, a qual com esforços conseguimos recuperar. Tenho esse email há quase 15 anos e nunca nada do gênero havia acontecido.

Nunca pensei que "mostrar a cara" para defender um direito que para mim é tão básico e simples de entender, que é o direito a liberdade individual, fosse me render perseguições. Se dizem que há ditadura na heteronormatividade, penso que querem fazer o oposto: "homonormatividade".

A história é a mesma, só mudam os personagens.

ps: e ciência que é bom, nada. Tudo pura ideologia.

domingo, 5 de maio de 2013

Projeto de deputado não propõe terapias “cura-gay”, e sim a liberdade profissional do psicólogo

      
   Texto publicado no Jornal Opinião dia 10/05/2013


Este assunto é de utilidade pública. Não trata apenas de homossexuais, mas sobre a liberdade no Brasil e o preconceito ideológico do nosso Conselho Federal de Psicologia.

Retrocesso é excluir uma minoria em detrimento de outra!  
PDL FOI APROVADO dia 19/06/13! viva a liberdade e a ciência!!
Os deputados Marco Feliciano e João Campos
      Está havendo uma discussão na mídia sobre o Projeto de Decreto Legislativo 234/11, de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), que objetiva anular o parágrafo único do artigo 3.º e todo o artigo 4.º de uma resolução interna do Conselho Federal de Psicologia, que condena a atuação de psicólogos em tratamentos que auxiliem possíveis homossexuais insatisfeitos com a própria sexualidade. O CFP exige, “indiretamente”, que as psicólogas aconselhem estes pacientes a se "assumirem" homossexuais se quiserem ser felizes - “convencendo-os” a “mudar” seu possível desejo de ser ou de se tornar heterossexuais. Essa pode ser a verdade de muitos, mas não é a de todos (a exemplo dos inúmeros casos de ex-homossexuais, de que falaremos mais adiante). A pena para o psicólogo que der continuidade a psicoterapia, aceitando esse tipo de desejo de seu paciente, é a perda de seu diploma. E no 4° artigo, as psicólogas estão proibidas de manifestar qualquer opinião contrária a isso em meios de comunicação de massa.  
Liberdade de escolha só para homossexuais?
       Essa tal resolução, ocorrida em 1999, a qual deveria supostamente se constituir como “avanço” social ou conquista para os homossexuais, ao meu ver, é uma suspensão crassa da liberdade. Nenhuma psicóloga e nenhum outro ser humano tem o direito, e muito menos a obrigação, de alterar o desejo de ninguém. Isso é o cúmulo. Desde 1973, a homossexualidade não é considerada doença, tanto pela OMS quanto pelo DSM IV. Cada um deve ter o direito de exercer sua sexualidade como bem entender. Da mesma forma que uma pessoa deve ter o direito de ser homossexual, também deve ter o direito de não sê-lo. Creio que isso é de compreensão óbvia.
'Ex-homossexuais': "felizes e com Deus". 
Respeitemos!  

      


        Então, você pode se perguntar: mas em que caso, um suposto homossexual, desejaria se tornar um heterossexual? Há inúmeros casos, relatados em livros e artigos científicos, de pessoas que se dizem “ex-homossexuais”, em especial nos EUA. E em boa parte dos casos, alegam que seu motivo maior para mudar, foi a sua religião. Todos sabem que católicos e evangélicos não concordam com a prática homossexual. E nós, psicólogas, sabemos que para uma pessoa ser feliz, precisa ter atitudes congruentes com seu conjunto de valores e crenças. Se essas pessoas contam que finalmente estão felizes, pois conseguiram ajustar seu desejo sexual às premissas de sua fé - quem somos nós para julgá-las? Por que o Conselho Federal de Psicologia proíbe a elas o atendimento psicológico condizente ao desejo de reconduzir seus desejos sexuais? 
       
Sexualidade não é "definitiva", mas subjetiva
                                                 

       Numa entrevista a rede globo acerca desse PDL, a Psic. Bianca, representando o CRP-SP, afirmou que "cientificamente" é sabido que a homossexualidade (poderia ter dito também heterossexualidade) é considerada uma condição, portanto não passível de mudança, e modificar isso seria algo de muito sofrimento. Desculpe, mas não conheço nenhum cálculo que comprove isso. Isso pode ser verdade para muitos, mas não para todos. Estamos falando de seres humanos, que diferem entre si. A sexualidade não é um número, ela se constrói num corpo e numa mente inseridos numa cultura. Só aí, temos milhares de aspectos subjetivos. Várias psicólogas e psicanalistas contemporâneas,  a exemplo da Psic. Dra. Regina Navarro, dizem, por exemplo, que a tendência da sociedade no futuro é ser bissexual. Se a sexualidade se modifica com a cultura, então ela é inexata, logo o argumento de que é "definitiva", cientificamente falando - é no mínimo, questionável. Já a escolha, a qual está na esfera da liberdade, essa me parece inquestionável. Se o indivíduo julga-se capaz de alterar seus desejos, a psicóloga não pode proibi-lo ou encerrar a terapia ali, como o Conselho obriga. E obriga pautado em que? Cientificamente falando, não há prova alguma acerca da orientação sexual dos indivíduos, apenas teorias, logo, é um absurdo nosso conselho "proibir" nosso trabalho baseado em pura ideologia de militância gay. Freud, uma referência máxima da psicologia, que tem uma boa teoria sobre como se constrói a orientação sexual, fala que a reorientação sexual é possível, ainda que se restrinja a uma minoria. Outro ponto alto da entrevista é a suspensão do artigo 4°, que obriga as psicólogas com uma opinião divergente acerca do assunto, a se calarem. Onde já se viu, por pensar diferente dos demais sobre um tema subjetivo, um profissional ser obrigado a fechar a boca? Precisamos de regulamentações, não de ditadura. (http://g1.globo.com/globo-news/entre-aspas/videos/t/todos-os-videos/v/projeto-que-autoriza-a-cura-gay-e-lancado-na-comissao-de-direitos-humanos-da-camara/2551926/)   
   
Manipulação da mídia distorce o projeto:
não é cura e nada tem a ver com religião,
e sim com liberdade 
Apesar de hoje a aceitação da homossexualidade ser mais ampla – principalmente pelo meio midiático e artístico – vemos que um preconceito ao contrário está surgindo. E vemos que estes formadores de opinião, de modo antiético, estão distorcendo o projeto de João Campos, afirmando que ele propõe a permissão de terapias “cura-gay”, insinuando que o deputado considera a homossexualidade uma doença. Isso é mentira. Outros, enfeitando mais, atribuem a inclusão desse PDL em votação em plenária ao polêmico presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Marco Feliciano  – quando o mesmo apenas fez o que é sua obrigação.
         
As psicólogas têm o dever de respeitar a escolha do paciente

     Cada um deve ser livre para ser feliz e exercer a sua sexualidade a sua maneira. Isso é liberdade. O CFP está vetando não apenas a liberdade das psicólogas de atuarem,  como também desse tipo de público ter acesso a uma psicoterapia. Isso é fazer acepção de pessoas. Ou se tem liberdade, ou não se tem. Essa coisa de “liberdade aos gays” e “proibição aos que não querem ser gays”, está mais para uma postura de militância radical gay, que para um Conselho Federal de Psicologia. Tais normativas são uma forma de discriminação, de imposição, e uma falta de respeito. Para não dizer, o tal preconceito reverso. Preconceito se vence com respeito, não com a criação de outro preconceito. E respeito se constrói com liberdade.  Espero que o CFP, assim como toda a sociedade, compreenda que a liberdade é um direito de todos. E a psicoterapia também. 



O TEMA DESSE PDL É LIBERDADE

CLIQUE e assista parte do debate sobre o projeto. No vídeo fica claro como os deputados que defendem a permanência da regulamentação se atem ao questão da cura-gay, que não tem NADA a ver com o projeto, e ainda ouvimos o absurdo do deputado Jean Willys dizer que o psic. Silas Malafaia e a psic. Marisa Lobo não tem cacife para se posicionarem enquanto psicólogos pois "não tem currículo lattes", uau, pensei que meu diploma já me assegurava esse direito. A fala do deputado João Campos é sucinta e clara, e foca no direito a LIBERDADE. Silas Malafaia fala do absurdo praticado pelo CFP, que o está processando por se pronunciar publicamente como pastor (agora psicólogo  não pode ter religião também), finalizando com o pronunciamento do Psic. Dr. Roberto Parloff, ex-presidente do ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA: "Banir a terapia de reorientação é errado, porque: 1°, ainda não temos todos os dados; 2° dê ouvidos a eles (os pacientes); 3° vocês estão dificultando as pesquisas". 







Reinaldo Azevedo, colunista da Revista Veja também argumenta a favor desse PDL, excelente reportagem: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/la-vem-mais-barulho-na-comissao-presidida-por-feliciano-agora-imprensa-inventa-que-projeto-autoriza-cura-gay-e-trata-homossexualidade-como-doenca-e-mais-uma-mentira-influente-ou/#comment-2589119

Seguem os artigos do Conselho Federal a serem sustados se o PDL for aprovado:
Art. 3° – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.” (Este deve se manter intacto, e SOZINHO já garante o despreconceito aos homossexuais)
Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades. (este deve ser alterado)
Art. 4° – Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.” (este deve ser alterado).

Para mudar essa situação, apoiamos o PDL 234/11 e convocamos todos os cidadãos brasileiros que defendem a democracia e a liberdade de expressão a enviar e-mails aos deputados da CDHM para que os parlamentares digam “sim” à proposta desse projeto. A seguir, a relação de contatos dos membros da Comissão:

Observação: copie todos os e-mails abaixo e cole-os no espaço para destinatário, enviando para todos os deputados de uma só vez.
dep.liliamsa@camara.leg.br; dep.andersonferreira@camara.leg.br; dep.keikoota@camara.leg.br; dep.pastoreurico@camara.leg.br; dep.henriqueafonso@camara.leg.br;dep.simplicioaraujo@camara.leg.br; dep.antonialucia@camara.leg.br; dep.pastormarcofeliciano@camara.leg.br; dep.otoniellima@camara.leg.br; dep.dr.carlosalberto@camara.leg.br; dep.domingosdutra@camara.leg.br; dep.erikakokay@camara.leg.br; dep.nilmariomiranda@camara.leg.br; dep.padreton@camara.leg.br; dep.marioheringer@camara.leg.br

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A importância da avaliação psicológica


     Texto publicado no Jornal Opinião 26/04/2013
      

      Muita gente nunca se deu conta, porém pelo menos na hora de tirar a habilitação, passou por uma avaliação psicológica, que é o famoso “psicotécnico”. Através dele, é possível saber se o candidato atinge a habilidade cognitiva e emocional mínima necessária para dirigir veículos. E há vários outros tipos de avaliações, como por exemplo, que mensuram a inteligência, a memória, a capacidade de concentração, a dinâmica de personalidade, os conflitos inconscientes, etc, com a finalidade de subsidiar diagnósticos. As avaliações psicológicas acerca do trânsito são tão importantes que, não somente no Brasil como no mundo, ninguém ganha uma carteira de habilitação se não for aprovado nelas. As avaliações também auxiliam empresas, escolas, hospitais, tribunais e profissionais da saúde em geral. Pena que sua prática ainda se restrinja mais às capitais.
       A avaliação psicológica é importante porque dá um respaldo científico aos diagnósticos. Tanto a empresa vai descobrir o potencial de responsabilidade e personalidade de seus candidatos, direcionando-os para as áreas corretas, como setor de vendas ou administrativo; como pode se proteger de contratar uma pessoa com alguma psicopatologia severa, que os gerentes não darão conta de perceber, evitando problemas e prejuízos para a corporação. Toda empresa inteligente tem psicólogos especializados em seleção e desenvolvimento de pessoas, ou ao menos contrata uma consultoria.
        Todavia, não é apenas a área organizacional que se beneficia, mas principalmente a área clínica. Psiquiatras, neurologistas e afins solicitam avaliações psicológicas para terem mais embasamento científico no encontro do diagnóstico de doenças mentais. Demências, hiperatividade, autismo, déficits de aprendizagem, transtornos de humor, de ansiedade, de personalidade, e etc, não são descobertos com exames de sangue ou ressonância magnética. A avaliação psicológica pode ajudar a desvendá-los e ainda elencar prognósticos e formas de tratamento de forma mais precisa. E para nós, psicólogas, não somente o diagnóstico é importante: aprofundar o entendimento do funcionamento dinâmico e inconsciente do paciente pode trazer ótimos resultados ao processo psicoterápico. 
         A área jurídica também se favorece com as avaliações psicológicas, as quais são utilizadas na compreensão desde casos de famílias, até casos mais complexos, como aqueles em que há crimes hediondos. Muitas vezes, as avaliações psicológicas são decisivas para o júri. Isso foi amplamente discutido no I Congresso Internacional de Psicologia da Tríplice Fronteira, ocorrido ano passado em Foz do Iguaçu. 
            Enfim, o único ponto negativo desse assunto, é constatar que a prática das avaliações psicológicas é mais comum nas capitais e que aqui no sudoeste do Paraná, é quase ínfima. Tanto as instituições como os médicos parecem “desconhecer” essa forma de instrumento diagnóstico, tão relevante e comum no mundo todo. E isso ainda piora quando certos doutores não admitem o conceito de atendimento multidisciplinar - no famigerado absolutismo médico. Ou, ainda, quando outras autoridades como prefeitos, empresários, políticos, no cume de sua desinformação, desconfiam da credibilidade ou confiabilidade das avaliações. Portanto, vamos divulgar a importância das avaliações psicológicas e acabar com essa marginalização descabida. Vamos crescer, Brasil. Nenhuma forma de ciência deve ser alvo de preconceito; e sim de respeito, sobretudo quando vemos resultados tão práticos e positivos.        



domingo, 21 de abril de 2013

O arrogante e os psicopatas


     Texto publicado no Jornal Opinião dia 19/04/13

 
     Certa vez, tivemos um paciente internado na clínica psiquiátrica, que era considerado “insuportável” por todos da própria família e por boa parte dos profissionais do local. Era um senhor com seus 60 anos, aposentado de um alto cargo público, que estava um tanto adoentado e sofria de incontinência urinária, portanto tinha enfermeiras-acompanhantes 24 horas por dia. Ele as tratava mal, as humilhava, mas, creio que como lhes pagava bem, permaneciam no serviço. Ele tinha uma vasta cultura geral, falava em latim para se exibir, porém toda a sua inteligência em vez de lhe agregar charme, o tornava um arrogante desagradável e sem noção.
     Logo no início do plantão, pela manhã, fui atendê-lo. Um tanto receosa, contudo extremamente curiosa. Que tipo de pessoa, supostamente tão culta e inteligente, que ocupou por tantos anos um alto cargo público, não tem um mínimo de habilidade para se relacionar? Aliás, que faz questão de pisar nas pessoas? Isso é, no mínimo, um paradoxo. Supostamente, uma pessoa inteligente vai buscar boas relações para pelo menos não ser interditada numa clínica. Se não fosse por afeto, que fosse por manipulação, que é a base dos relacionamentos dos psicopatas. Estava curiosa para saber o que tinha ali: seria então psicopata clássico, de livro? Um sádico, narcisista? Qual o diagnóstico dele? E lá fui eu, chamá-lo para o meu primeiro atendimento do dia.
     A princípio, ele foi cordial, contou sobre si mesmo (seu assunto preferido), e o atendimento fluía normalmente. De repente, o homem começou a se exaltar e a me humilhar, afirmando que eu não era capaz de entendê-lo, que eu era burra, e, que para ser digna de compreendê-lo, seria necessário falar os 10 idiomas que ele falava, e ter todo o conhecimento histórico-político-geográfico-cultural e constitucional, que ele tinha. Finalizando, disse que eu era uma “ninguém”, e que se ele metesse uma bala no meio da minha cabeça, eu seria enterrada praticamente como uma indigente, e que ninguém nunca o puniria por isso. Porque ele era influente e invencível. Ele falou isso com grande frieza. Coisa de filme.
     Ele não estava em surto psicótico nem era esquizofrênico. Durante toda a sua fala, permaneci em silêncio, apenas deixei ele descarregar seu ódio. Contudo, não vou negar que o meu sangue ferveu quando ele me ameaçou de morte. Psicóloga também tem instinto de sobrevivência... e ego! Ser subestimada também me irritou. Mas, como de praxe, vi que minha raiva não fazia sentido, pois estava diante de um doente. Naquele ponto, já tinha a certeza de que ele era apenas mais um psicopata. Que droga, pensei, nada de inédito! Então apenas encerrei o atendimento dele, dizendo: “Por mais que o senhor se considere invencível, todos erram. E lamento dizer, mas o senhor perdeu, pois se deixou vencer pela arrogância, e é por isso que o senhor está aqui. Tenha um bom dia”. Ele ficou mudo, eu saí, e não o atendi mais, porque psicopatas, infelizmente, são irrecuperáveis.
     Relatei um caso clássico do tipo de psicopata que goza torturando as pessoas emocionalmente. Não pensem que psicopatas são aquelas pessoas com sede de morte, esse é um outro tipo, bem mais raro, o caso acima é a forma mais comum de psicopatia, e está mais perto de nós do que imaginamos. Todavia, arrogância não é uma exclusividade de psicopatas e pode cegar e adoecer pessoas comuns também. Melhor ser humilde, que ser miserável.   

sexta-feira, 12 de abril de 2013

VI Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica: Direito de todos, dever do psicólogo e o IX Congresso Iberoamericano de Diagnóstico y Evaluación Psicológica


Imperdível!


O VI Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica: Direito de todos, dever do psicólogo e o IX Congresso Iberoamericano de Diagnóstico y Evaluación Psicológica serão realizados de 04 a 07 de junho em Maceió-AL.
O evento será realizado no CENTRO DE CONVENÇÕES “AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA”, do Hotel Ritz Urban Resort, Maceió, AL.
Trata-se de evento nacional consolidado na área de avalição psicológica, a ser realizado pela sexta vez. Representa uma oportunidade para reunir pesquisadores, professores, estudantes e profissionais do país interessados na área da avaliação e medida em psicologia. As conferências, por conta de convidados renomados, deverão suscitar temáticas emergentes na área e reabrem debates clássicos; as mesas-redondas serão uma oportunidade para trocar idéias, debater temas recentes e propor novas estratégias de pesquisa e formação. Os painéis assegurarão a exposição de pesquisas e práticas de diversas partes do país, oportunidade em que se dará a conhecer o cenário da avaliação psicológica. Deverão ocorrer 24 mini-cursos, ministrados por nomes principais da avaliação psicológica, oferecendo a oportunidade de atualização e intercâmbio dos envolvidos. Este é, portanto, um evento importante, único na área.
O evento tem diversas finalidades. Pretende, principalmente, ser um espaço científico, acadêmico e profissional para reunir aqueles que têm feito a avaliação psicológica no Brasil, permitindo igualmente intercâmbio com pesquisadores de outros países. Seus objetivos são: (1) promover e incentivar estudos adequadamente realizados sobre testes, escalas e questionários que visem medir e/ou avaliar construtos psicológicos, (2) garantir conhecimentos essenciais para que se reconheçam os instrumentos que poderão ser adequadamente utilizadas na prática de avaliação psicológica em diversos âmbitos laborais, (3) permitir o aprendizado de novas técnicas de avaliação psicológica, (4) possibilitar o conhecimento de novos softwares e/ou técnicas de análises de dados, (5) permitir que se conheça o que tem sido realmente feito na área no país, tanto no nível da pesquisa como da prática psicológica.

Direito de todos, dever do psicólogo
O congresso tratará a avaliação psicológica abordando diversos temas, dentre os quais: testes de inteligência, testes projetivos, escalas e inventários de personalidade, testes de desempenho acadêmico, testes educacionais, avaliação neuropsicológica, entrevistas, questionários, observações e testes informatizados. Também abordará discussões práticas sobre a avaliação psicológica nos mais variados contextos, tais como: escolar/educacional, clínico, organizacional/trabalho, social/comunitário, da saúde, forense, trânsito e do esporte. Também tratará de assuntos fundamentais e relacionados à área, tais como: psicometria, teoria de resposta ao item, métodos estatísticos, formação, legislação e ética. No congresso ocorrerão cursos, conferências, mesas redondas, “como eu faço”, apresentações de painéis, dentre outros. 

Público-alvo
Psicólogos que trabalhem ou tenham interesse na área da avaliação psicológica;
Alunos de graduação em Psicologia;
Pesquisadores acadêmicos (graduandos e pós-graduandos) que desenvolvam projetos com temas afins à avaliação psicológica. 
http://www.ibapnet.org.br/congresso2013/?pgn=apresentacao

A paz é a base da felicidade


     Texto publicado no Jornal Opinião dia 12/04/2013 

     
     Semana passada falei sobre o medo que várias pessoas têm de ser felizes. O que parece, como eu disse, paradoxal, já que ser feliz é tão bom, talvez até o que todos nós almejemos. Porém, outro sentimento igualmente importante é a paz. O ritmo frenético dos dias atuais, as cobranças excessivas de algumas corporações, as contas a vencer, as pendências afetivas, tudo isso podem ser agentes ansiosos severos. Sem paz, é possível achar a tal felicidade?
     Vejam os diferentes significados de paz, que achei em dicionários variados: harmonia, concórdia; sossego, tranqüilidade; calma, repouso. Estado de não-beligerância. Fazer as pazes, reconciliar-se. Apesar de ser difícil de definir, creio que não há ninguém que não entenda o que é a paz, ao simples ouvir da palavra. Ainda assim, eu ousaria definir que paz é um estado emocional interno e relativamente constante de serenidade, e até certa resignação, elencada por um conjunto de valores éticos, morais e espirituais, que permitam ao indivíduo aceitar o que ele não pode entender ou modificar, e lidar de maneira mais positiva e saudável o possível com isso, bem como com todos os aspectos de sua vida.
      Na psicologia, entendemos que saúde mental é conseqüência principalmente da capacidade humana de adaptação e desse “lidar positivamente” com as adversidades. Penso que o caminho para sentirmos paz, não seja diferente. A paz é como uma base; um alicerce. Nos dá estrutura, nos torna mais fortes, para não dizer resilientes. Creio que, antes de pensar em felicidade, deve-se tentar experimentar a paz. Sim, escolher o tal conjunto de valores de que falei, exercitá-los nas menores atitudes cotidianas com positividade, confere uma organização interna mínima, para preparar-nos para escalar o monte da felicidade. Lembrando que, o objetivo é o topo; o melhor.  
     Porque a felicidade, me parece mais fabulosa, animada, e inclusive vaidosa, que a paz. A paz é quieta, reservada, ela não requer holofotes ou confetes. A paz sugere o consolo da agonia, da ansiedade pelo porvir, a habilidade de perdoar aos outros e a si mesmo se as coisas não foram nem são perfeitas. A paz conforta, é a força indispensável para sermos felizes.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Medo da Felicidade


Texto publicado no Jornal Opinião dia 05/04/13


     
      É uma característica de algumas neuroses o medo do “topo”. Certas pessoas, quando estão perto de atingir um objetivo, alcançar o sucesso, sentem grande ansiedade e dão passos para trás. Por exemplo, pessoas que começam mil coisas e não terminam nenhuma, ou que concluem, porém se entediam com facilidade, como se nada as satisfizesse. A felicidade para elas parece um evento circunstancial e efêmero, quando não o é (isso seria alegria). Grande parte das vezes, a resistência ao topo, ou à vitória, ou ao sucesso, se deve ao medo de conseguir se sentar no trono, e perdê-lo; ou seja, é o medo do fracasso. Pois só é possível fracassar, se houver tentativa de sucesso. E como a felicidade implica certa completude, também requer a tentativa de alcançar bons resultados, para não dizer os melhores.

     “Melhor nem terminar o curso, imagina se eu me formo e não arrumo emprego?” ou “Imagina se eu arrumo o emprego e não sou bom?” ou “Imagina se eu for bom mas fulano for melhor?”. Em geral, pessoas com medo da felicidade apresentam insegurança quanto ao próprio potencial, baixa autoestima ou ainda um medo exacerbado de falhar, por não atingir as expectativas alheias ou próprias. Para evitar o risco de fracassar, muitos optam pela zona de conforto, que é a acomodação, o não-desafiar o próprio ego. Logo, consideram mais apropriado colocar a culpa na dor de barriga, por causa dela faltaram a prova do concurso. Ou no mercado de trabalho, que é “ruim”, é “injusto”, ou o chefe é “chato”, por isso não são bem-sucedidos. Desse jeito, nunca serão fracassados. Correto?

     Errado. Desde quando o quase, a metade, o pouco, ou restos fizeram alguém feliz? O maior fracasso de uma pessoa é a infelicidade. Portanto, é preciso ter sonhos, e esforçar-se para realizá-los. Conclua, finalize, concretize, feche o ciclo para que outro recomece. Aprecie a simplicidade de um dia bonito, namore, passeie, trabalhe, seja capaz de ter um mínimo de ternura, para conseguir se satisfazer até nas amenidades cotidianas. Abandone as dores ou questionamentos profundos, arrisque-se sendo raso... Valorize aquilo que aparece, que está na superfície, que levanta por força própria porque quer respirar. Descomplique.

     Ter medo da felicidade parece até absurdo, já que é tão bom se sentir feliz. Porém senti-la pressupõe ousadia e coragem, posto que substitui a angústia da mediocridade ou da dor, por uma angústia ainda maior, que é a do amor, do risco de viver cada dia. De ser e querer o inteiro - nada de migalhas. A felicidade exige o mais difícil: que abandonemos a acomodação e sejamos plenos. Se você não consegue ser feliz, mesmo munido dessas orientações, busque uma psicoterapia. E seja feliz! 


sexta-feira, 8 de março de 2013

Características do usuário de drogas


Texto publicado dia 08/03/13 no Jornal Opinião            

       
        O uso de drogas, diga-se de passagem, é histórico. Desde sempre o homem fez uso de ervas, combinações alimentícias ou químicas, com a finalidade de se entorpecer. Entretanto, hoje temos algumas drogas potencialmente destrutivas, que causam uma dependência orgânica severa, que podem destruir por completo a vida de uma pessoa. Visto que o perigo das drogas atuais parece maior, e que a dependência química já é considerada uma doença pela OMS, tendo inclusive CID (classificação internacional das doenças) próprio, vários estudos científicos tem dado subsídios para identificar alguns traços de personalidade comuns a usuários de drogas, com a finalidade de auxiliar tanto a usuários, familiares e profissionais da área, a realizar desde ações preventivas à dependência quanto de tratamento e apoio.  
         Vejam o exemplo da morte, ontem, de um grande compositor e músico brasileiro, o Chorão: embora ainda inconcluso, o relatório aponta que seu falecimento pode estar associado ao uso de álcool e cocaína feito por ele no dia. Antes de morrerem, os dependentes químicos em geral tem sua vida pessoal e profissional destruída também. A exemplo do cantor, que estava em depressão devido ao divórcio, levando uma vida desregrada e sem sentido, muitos usuários já apresentam distúrbios emocionais antes mesmo de usar drogas. Tais transtornos, não sendo devidamente tratados, levam algumas pessoas a escolher as drogas como um refúgio, ou meio compensatório de prazer, ou ainda como uma maneira de extravasar uma postura transgressora.
         E aí vem a pergunta: por que alguns usam drogas para lidar com suas questões, e outros não? Os estudos apontam que os usuários geralmente apresentam alguns “defeitos” de caráter em comum, tais como: comportamento impulsivo, manipulador, tendência a transgressão, dificuldade de aceitar limites, ansiedade, procrastinação, inabilidade de enfrentar problemas, egocentrismo, necessidade de gratificação imediata. Depois de ter trabalhado por três anos numa clínica para dependentes químicos, posso dizer que além de concordar com esses resultados, acrescentaria mais duas características nesse perfil: a negação de seus próprios defeitos, e a disposição para a projeção, que é apontar no outro o defeito que ele mesmo tem, sem se aperceber que o tem.
         Munidos desse conhecimento, as psicólogas que tratam esses casos já tem um protocolo de atendimento focado na compreensão e eliminação desses “defeitos”, que certamente quando trabalhados, auxiliam consideravelmente os usuários a deixar o uso; e, também, podem evitar que pessoas não-usuárias passem a sê-lo, ou que desenvolvam transtornos mentais. Lembrando que, além da psicoterapia, recurso indispensável para o sucesso do tratamento, este requer acompanhamento psiquiátrico e inserção do usuário em grupos de apoio.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Mais uma perda para as drogas...


"Eles dizem que é impossível 
Encontrar o amor sem perder a razão 
Mas pra quem tem pensamento forte 
O impossível é só questão de opinião... 

E disso os loucos sabem 
Só os loucos sabem! 
Disso os loucos sabem 
Só os loucos sabem!"

-Chorão

sexta-feira, 1 de março de 2013

Psicólogas, sensíveis e sádicas?



Texto publicado dia 01/03/2013 pelo Jornal Opinião


       Embora a psicóloga seja uma profissional que lida com problemas e distúrbios emocionais o dia todo - o que para muitos pode ser considerado uma tortura – “Como você consegue passar horas ouvindo problemas?”, “Como consegue atender e aceitar uma pessoa que já fez tanta coisa ruim?”, “Você não tem medo de gente maluca?” , é muito interessante compreender não apenas mentes, mas almas, e principalmente lidar com tudo o que descobrimos nelas com bom humor. 

       Certa vez, chegou uma senhora na unidade psiquiátrica com um tubo de desodorante nas partes íntimas. Em seu relato, contou que “esqueceu” o objeto ali, enquanto “brincava” com ele. Havia dois estudantes de engenharia próximos, acompanhando um outro senhor, e eles simplesmente começaram de rir. É claro que a equipe que prestava o atendimento retirou-os da sala, e é claro também que toda essa situação nos rendeu algumas risadas depois. Obviamente, na hora do socorro nenhum dos profissionais riu - sabemos que é uma ocasião de sofrimento, pois a senhora estava em surto psicótico. Mas é fato: necessitamos descontrair, pois mergulhar na dor do outro possivelmente nos incapacitaria de ajudá-lo.


       Há duas características que considero imprescindíveis a toda boa psicóloga: boas doses de sensibilidade e sadismo.  A primeira porque gera empatia, perspicácia e o cuidado vitais à terapia, e a segunda dá estrutura para suportar situações como essa, sem pirar. Uma combinação paradoxal, mas quase “ideal” – penso que pode ser provocante e, ao mesmo tempo, materna. E precisamos disso numa psicoterapia.


       Digo mais: passar o dia ouvindo a intimidade mais obscura dos tipos mais atípicos, patéticos, comuns e fascinantes, mais seus transtornos, ambivalências e recalques – seja em consultórios, empresas ou em hospitais - presume, meus caros, mais que bom humor, mas equilíbrio emocional. Se apenas ouvíssemos... entretanto também os analisamos e os acolhemos. 


       Haja estômago para oferecer um sorriso, e uma palavra certeira, quando uma alma se desnuda, frágil, às vezes em seu pior momento, na nossa frente. Haja cérebro e coração também. É um trabalho cansativo, desgastante, mas gratificante – nada como apoiar alguém no caminho mais solitário e belo que há: sua vida. Nada como facilitar o encontro de respostas ou soluções, que podem até mudar uma vida inteira.     


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O prazer tem motivos


Texto publicado no Jornal Opinião dia 08/02/2013

           
         O prazer é um dos maiores agentes impulsionadores que existe. Em tudo o que fazemos, esperamos uma recompensa – seja ela consciente, ou inconsciente. Mesmo quando nos dedicamos a atividades voluntárias ou não-remuneradas, pelas quais portanto não se receberia uma gratificação concreta – obtemos alguma forma de satisfação, alegria, nem que seja por agir de acordo com nossas crenças e valores.
         Podemos afirmar que o ser humano age por prazer. O interessante, todavia, é que o conceito de prazer pode ser extremamente relativo e complexo quando falamos de pessoas. O prazer para nós não se restringe ao âmbito instintivo, que advém do suprir necessidades natas como fome, sede, sono, sexo, etc. Em nós, tudo o que sentido é pensado, e nosso córtex filtra, avalia e percebe nosso derredor de forma refinada e congruente com nossos valores, experiências passadas e registros inconscientes.
         Assim, podemos dizer que agimos não apenas por prazer – mas por motivos. Não é simplesmente uma recompensa ou segundos de prazer visceral que nos impulsiona – precisamos de uma razão para realizar coisas. Na verdade, em tudo o que fazemos existe uma razão, mesmo que não aparente. Alguém que come muito pode dizer “eu como mais porque sinto muita fome” ou “como muito pelo prazer de comer”, porém, certamente há um motivo para isso, ainda que inconsciente. Não é apenas “prazer”. Há homens casados que se envolvem com prostitutas, os quais afirmam que é apenas para satisfazer seu instinto sexual,... e por aí vai. Mero engano.
        Tudo o que fazemos tem um motivo e tudo o que precisamos é de um. Precisamos de motivos para viver. Em grande parte dos casos de depressão, além do acompanhamento médico, o que o paciente necessita é redescobrir seus motivos ou ainda mudar sua maneira de vê-los. Precisa analisar o que pensa, sente, mergulhar dentro de si e achar as razões, inclusive, de sua própria tristeza. As razões nos fazem entender as emoções, e podem mudar nossa maneira de senti-las. Por fim, é uma troca eterna: as razões nos dão emoções; e as emoções também nos dão razões para agir. E cada um tem as suas.