quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O prazer tem motivos


Texto publicado no Jornal Opinião dia 08/02/2013

           
         O prazer é um dos maiores agentes impulsionadores que existe. Em tudo o que fazemos, esperamos uma recompensa – seja ela consciente, ou inconsciente. Mesmo quando nos dedicamos a atividades voluntárias ou não-remuneradas, pelas quais portanto não se receberia uma gratificação concreta – obtemos alguma forma de satisfação, alegria, nem que seja por agir de acordo com nossas crenças e valores.
         Podemos afirmar que o ser humano age por prazer. O interessante, todavia, é que o conceito de prazer pode ser extremamente relativo e complexo quando falamos de pessoas. O prazer para nós não se restringe ao âmbito instintivo, que advém do suprir necessidades natas como fome, sede, sono, sexo, etc. Em nós, tudo o que sentido é pensado, e nosso córtex filtra, avalia e percebe nosso derredor de forma refinada e congruente com nossos valores, experiências passadas e registros inconscientes.
         Assim, podemos dizer que agimos não apenas por prazer – mas por motivos. Não é simplesmente uma recompensa ou segundos de prazer visceral que nos impulsiona – precisamos de uma razão para realizar coisas. Na verdade, em tudo o que fazemos existe uma razão, mesmo que não aparente. Alguém que come muito pode dizer “eu como mais porque sinto muita fome” ou “como muito pelo prazer de comer”, porém, certamente há um motivo para isso, ainda que inconsciente. Não é apenas “prazer”. Há homens casados que se envolvem com prostitutas, os quais afirmam que é apenas para satisfazer seu instinto sexual,... e por aí vai. Mero engano.
        Tudo o que fazemos tem um motivo e tudo o que precisamos é de um. Precisamos de motivos para viver. Em grande parte dos casos de depressão, além do acompanhamento médico, o que o paciente necessita é redescobrir seus motivos ou ainda mudar sua maneira de vê-los. Precisa analisar o que pensa, sente, mergulhar dentro de si e achar as razões, inclusive, de sua própria tristeza. As razões nos fazem entender as emoções, e podem mudar nossa maneira de senti-las. Por fim, é uma troca eterna: as razões nos dão emoções; e as emoções também nos dão razões para agir. E cada um tem as suas.