sexta-feira, 1 de março de 2013

Psicólogas, sensíveis e sádicas?



Texto publicado dia 01/03/2013 pelo Jornal Opinião


       Embora a psicóloga seja uma profissional que lida com problemas e distúrbios emocionais o dia todo - o que para muitos pode ser considerado uma tortura – “Como você consegue passar horas ouvindo problemas?”, “Como consegue atender e aceitar uma pessoa que já fez tanta coisa ruim?”, “Você não tem medo de gente maluca?” , é muito interessante compreender não apenas mentes, mas almas, e principalmente lidar com tudo o que descobrimos nelas com bom humor. 

       Certa vez, chegou uma senhora na unidade psiquiátrica com um tubo de desodorante nas partes íntimas. Em seu relato, contou que “esqueceu” o objeto ali, enquanto “brincava” com ele. Havia dois estudantes de engenharia próximos, acompanhando um outro senhor, e eles simplesmente começaram de rir. É claro que a equipe que prestava o atendimento retirou-os da sala, e é claro também que toda essa situação nos rendeu algumas risadas depois. Obviamente, na hora do socorro nenhum dos profissionais riu - sabemos que é uma ocasião de sofrimento, pois a senhora estava em surto psicótico. Mas é fato: necessitamos descontrair, pois mergulhar na dor do outro possivelmente nos incapacitaria de ajudá-lo.


       Há duas características que considero imprescindíveis a toda boa psicóloga: boas doses de sensibilidade e sadismo.  A primeira porque gera empatia, perspicácia e o cuidado vitais à terapia, e a segunda dá estrutura para suportar situações como essa, sem pirar. Uma combinação paradoxal, mas quase “ideal” – penso que pode ser provocante e, ao mesmo tempo, materna. E precisamos disso numa psicoterapia.


       Digo mais: passar o dia ouvindo a intimidade mais obscura dos tipos mais atípicos, patéticos, comuns e fascinantes, mais seus transtornos, ambivalências e recalques – seja em consultórios, empresas ou em hospitais - presume, meus caros, mais que bom humor, mas equilíbrio emocional. Se apenas ouvíssemos... entretanto também os analisamos e os acolhemos. 


       Haja estômago para oferecer um sorriso, e uma palavra certeira, quando uma alma se desnuda, frágil, às vezes em seu pior momento, na nossa frente. Haja cérebro e coração também. É um trabalho cansativo, desgastante, mas gratificante – nada como apoiar alguém no caminho mais solitário e belo que há: sua vida. Nada como facilitar o encontro de respostas ou soluções, que podem até mudar uma vida inteira.     


7 comentários:

  1. Seu texto não foi feliz. Se ligarmos a tecla SAP, veremos que apenas ajuda a reforçar estereótipos sobre as reais motivações de quem quer seguir a carreira de psicóloga. Um grande desserviço à credibilidade da profissão.

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  2. Gostaria de saber onde está sua tecla SAP. O maior estereótipo já inventado de nossa profissão é da psicóloga caridosa cuja motivação é "ajudar as pessoas". É difícil admitir que quem lida com almas ou corpos expostos e em sofrimento precisa, sim, de um mínimo de sadismo. Deixo os contos de fadas para as crianças.

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  3. Prezada, em nenhum momento eu me referi à suposta vocação para "ajudar os outros", que você defende no artigo ("nada como apoiar alguém no caminho mais solitário e belo que há" e blábláblá) e ataca na resposta ("conto de fadas" etc). O estereótipo de que eu falava é o de que as pessoas que seguem a carreira de psicólogas são meninas emocionalmente muito complicadas, que acreditam se sentir melhor ouvindo a "intimidade mais obscura" dos pacientes, a fim de "render algumas risadas mais tarde". Essa imagem da Psicologia não faz justiça com muitas profissionais sérias que conheço, e seu texto apenas tende a exacerbar um preconceito social que já deveria ter sido extinto. Mas não pretendo polemizar com você. Desejo sucesso à sua carreira e felicidades a seus pacientes. Grande abraço, doutora.

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  4. Realmente, quando li seu primeiro comentário, achei-o mal explicado. Mas este último foi mais preciso, então há 2 pontos que desejo esclarecer. E relaxe, pois não precisamos "polemizar", até porque a questão aqui é simples. Primeiro, por mais que uma interpretação de texto seja subjetiva, a sua, de que "psicólogas são meninas emocionalmente muito complicadas, que acreditam se sentir melhor ouvindo a 'intimidade mais obscura' dos pacientes, a fim de 'render algumas risadas mais tarde'", é pelo menos incoerente com o escrito, para não dizer ultrajante. O texto apenas aponta uma realidade, óbvia especialmente para as psicólogas que trabalham com pacientes graves (saúde mental), de que um mínimo de sadismo e bom humor se faz necessário para lidar com algumas situações. Ponto. Agora, se para vc, ter essas características significa ser "emocionalmente complicado", o julgamento é seu, assim como o preconceito também. Pergunto novamente: onde está sua tecla SAP?
    Posso te assegurar que, em tempo algum, ter esses traços farão alguém "complicado". O texto teve exatamente o objetivo de exemplificar e simplificar a realidade - e vc entende os profissionais como "complicados"? Desculpe, mas vejo que a complicação está na sua desinformação ou em vc mesma. O segundo ponto a esclarecer, seria sobre "ajudar os outros", que vc diz que defendo e ataco ao mesmo tempo. Todavia,não me darei a este trabalho, pois o primeiro ponto já explica esse último: somos gente, somos normais, não somos anjos nem demônios. Outro abraço para vc.

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  5. Como médico psiquiatra e colega da psicóloga Michele, venho parabenizar pelo texto. Concordo com suas ideias, e gostaria de ver mais psicólogos com a experiência e argúcia dela.

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  6. Esteriótipo é uma palavra muito forte.

    Trata-se de um rótulo para massa, visando propagar uma visão minimalista, preconceituosa e limitadora de uma pessoa, ou de um grupo.

    Acho que o texto da Michele é como o desabafo de qualquer ser humano que se envolve de corpo e alma com a sua profissão.

    É impossível ser dentista, psicólogo, cardiologista... E não olhar para os seus pacientes sem um filtro que os proteja de envolver-se demais com o sofrimento que os trouxe até o consultório.

    Sem estas "ferramentas", os profissionais, que também são seres humanos, também ficariam doentes junto com os seus pacientes.

    Da mesma forma, ir ao psicólogo e vê-lo chorar diante dos meus problemas seria o mesmo que ir ao dentista e encontrá-lo com instrumentos oxidados e sujos.

    Ou ir ao cardiologista e encontrá-lo fedorento e fumando.

    Seria desconfortante, para não dizer ridículo.

    Do mesmo jeito que buscamos:
    - uma pessoa rica, para perguntar como se ganha dinheiro
    - uma pessoa realizada em seu casamento, para perguntar como ser feliz na vida conjugal

    Também buscamos no psicólogo, uma pessoa emocionalmente madura e estruturada, para beber de seu conhecimento e caminharmos neste mesmo sentido.

    O que talvez não apareça na tecla SAP da ANÔNIMA acima são as legendas do que não foi dito, ou do que realmente seja esteriotipar.

    Em geral, quem nasceu rico não sabe como ficar rico. Assim como quem é pobre, não sabe como é ficar pobre.

    Só sabe ganhar dinheiro quem, por conta própria, migra de uma classe para a outra.

    Contudo, o ato de dar conselhos é absurdamente parcial: uma forma maquiada de varrer para baixo do tapete aquilo que você considera desnecessário contar, e enfatizar o que você julgar importante.

    Em resumo:

    - Pra ficar rico, tem que assumir dívidas
    - Pra ser feliz no casamento, tem que enfrentar os problemas (e não apenas adotar uma postura de feliz)
    - Pra ser bom de cama, tem que saber o que fazer se broxar
    - Pra ser divertido, tem que saber lidar com o ridículo e o exagero

    E pra ser psicólogo, acho que é preciso ser, antes de tudo, humano.

    E os humanos

    - só aprendem a lidar com os seu problemas, quando aprendem a rir deles e só aprendem a viver a vida, quando aprendem a rir da morte.

    Já não bastam os psiquiatras, que olham pros sintomas e esquecem de você e da sua vida?

    Agora, para serem considerados "profissionais sérios" até os psicólogos precisam ser como um lago incólume diante de uma selva em chamas?

    Pois eu acho que um "psicólogo sério" é aquele que me ouve de verdade, que me ensina a rir dos meus problemas e que não seja, acima de tudo, diferente de mim (posto que ele não pode me ensinar algo que não sabe).

    E se eu uso do sadismo, do sarcasmo, da ironia e do humor para amenizar os desafios do dia a dia, por que razão um psicólogo, que também é ser humano, não pode fazê-lo de forma responsável e produtiva?

    Acho que esteriótipo grave é aquele que os profissionais querem, de forma hipócrita, passar para a sociedade: que o psicólogo não vê graça, não fica triste, não sofre junto e não se utiliza do bom humor para superar os desafios do seu dia a dia.

    Isto sim, é uma tentativa infeliz.

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  7. ótimo texto, presisa-se de paciência e sadismo, para analisar uma pessoa , analisando ela como se fosse um animal doente; astuto, previsível e doente, em que você deve criar outra realidade para sua vida, e com a sua técnica a plasticidade do cérebro moestará o seu resultado!

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