segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Cirurgia bariátrica se populariza, mas requer acompanhamento psicológico


Texto publicado no Jornal Opinião dia 16/11/12 e similar no Jornal de Beltrão dia 06/06/12


Faustão, antes e meses depois da cirurgia
      
       O volume de pessoas obesas que optam pela cirurgia bariátrica vem aumentando consideravelmente em Francisco Beltrão. Sei disso porque a frequência de pacientes no consultório em busca da avaliação psicológica (exigida pelo SUS e pelos planos de saúde para a realização do procedimento) só cresce. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde em abril deste ano, 49% dos brasileiros estão acima do peso. Não é à toa que a cirurgia vem se popularizando e que suas técnicas vêm se aprimorando. Vale ressaltar, contudo, que essa cirurgia é indicada apenas para casos de obesidade moderada a mórbida, ou seja, quando o paciente apresenta um IMC (índice de massa corporal) acima de 35,5. 
       No I Congresso Internacional de Psicologia da Tríplice Fronteira deste ano, foram apresentados trabalhos e pesquisas de doutoras em psicologia, que concluíram a necessidade tanto da avaliação, como também do acompanhamento psicológico pré e pós-cirúrgico, para uma maior chance de se obter  sucesso ao fim do procedimento. E a obesidade, de fato, é uma doença séria. É uma patologia crônica multifatorial, na qual a reserva natural de gordura aumenta, predispondo o obeso a uma série de doenças, tais como as cardiovasculares, diabetes, hipertensão, apneia do sono, depressão e dificuldades emocionais.
       E por que a cirurgia bariátrica requer uma avaliação e preparação psicológica? Primeiro, porque é um procedimento cirúrgico que afeta não apenas o estômago, mas a mente ou o emocional da pessoa.  Emagrece-se muito rapidamente – e ficar magro em três meses é uma mudança gigantesca.  A mente precisa ser preparada não apenas para viver nesse “novo corpo”, mas principalmente para a drástica redução da ingestão de alimentos, que durará no mínimo por um ano. 
       Explicando de forma simplória – a comida, simbolicamente, pode representar afeto — no primeiro contato com a mãe, o bebê mama, é aquecido, e assim se sente seguro e amado, e desde então nosso inconsciente pode associar a comida ao recebimento de afeto. Muitos obesos comem compulsivamente como forma de alívio de carências diversas. Portanto, tirar bruscamente um “cano de escape” psíquico pode levar o paciente a quadros ansiosos e depressivos graves e até a um surto psicótico. 
       A preparação psicológica vai ajudar o paciente a se conhecer melhor e a entender o papel da comida na vida dele, a fim de amenizar o impacto do comer pouquíssimo. Porque, se comer pouco ou certo fosse fácil, seríamos todos magrinhos. Além do mais, em geral, obesos têm baixa autoestima e sentimentos de rejeição e inadequação. A cirurgia bariátrica pode ser uma boa alternativa para tratar a obesidade enquanto transtorno orgânico, porém para o transtorno psíquico não existe cirurgia, e sim a força de vontade elencada pelo acompanhamento psicológico.                                                                                                                                                                                        

sábado, 24 de novembro de 2012

Dúvidas na escolha da profissão? Procure uma psicóloga!


Texto publicado no jornal Opinião dia 23/11/2012.
       

e agora?
         
          Para fazer escolhas acertadas na vida, sejam elas de qualquer ordem, podemos dizer que o  primeiro passo é se conhecer bem e, o segundo, ter uma boa maturidade. Porém, ter essas duas características aos 16, 17, 18 anos de idade, parece um tanto difícil, para não dizer impossível! A adolescência é uma fase de transição da infância para a vida adulta, em que o jovem está descobrindo e experimentando o que gosta ou não. É natural que não saiba lidar direito com algumas escolhas, ainda mais no momento de pressão do vestibular. Por isso, uma ajuda profissional pode fazer toda a diferença.

        
       Definir qual o curso que vai seguir é uma opção decisiva, que vai determinar não apenas o que jovem fará nos próximos anos de sua vida, como também lhe dará uma identidade: “fulano é engenheiro, sicrano é fisioterapeuta, beltrano é professor”... Ou seja, a profissão diz qual é a nossa “função” no mundo. O número de cursos não-acabados nas universidades é imenso, resultante de escolhas equivocadas por parte dos jovens. Algumas vezes, isso pode ser evitado, se houver uma boa orientação e apoio da família. 
        Em alguns casos, a orientação profissional feita por uma psicóloga também pode ajudar a adultos que estão passando por um momento de “reciclagem” em suas vidas: estão se reinventando e também querem mudar o ramo de sua atividade, e podem se sentir perdidos.
E como funciona a orientação profissional? Antigamente, as escolas (em geral privadas) realizavam testes vocacionais com os seus alunos. Hoje, são poucas as que oferecem, até por que não se aconselha a apenas fazer o teste em si, pois ele pode ajudar somente a delimitar a área de atuação mais favorável do indivíduo. Todavia, é preciso levar em conta que as profissões podem se combinar de várias maneiras, misturando várias ciências. 
       E, além disso, há outros aspectos do indivíduo que devem ser considerados. Personalidade, inteligência, capacidade de concentração, experiências, sonhos – acertar na escolha da profissão também implica analisar esses pontos. Assim, a orientação profissional é um processo que visa atender o jovem por inteiro, tanto na aplicação de testes para a compreensão das capacidades e individualidade, como facilitando até uma autodescoberta do indivíduo. 
      Portanto, havendo dúvidas na escolha profissional, não hesite em buscar o apoio da orientação profissional, um serviço oferecido exclusivamente por psicólogas. Além de evitar equívocos e perda de tempo, poderá auxiliar o jovem a entender quem é, o que deseja, e qual profissão lhe dará mais satisfação.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Diagnóstico X Tratamento psicológico


      Escrevi essas considerações dia 07/09/12...  
      
      "Confesso que sempre me deslumbrei com a área diagnóstica da psicologia. Diagnosticar personalidade, patologia, cognição e lá vai o trem, não é pra qualquer psicólogo. A aplicação dos testes exige o domínio do instrumento, um alto conhecimento psicológico, além da perspicácia e sensibilidade do olhar clínico. Sempre considerei e ainda considero "glamourosa" essa área. Minha primeira pós foi escolhida baseada nesse glamour, e lá fui eu fazer neuropsicologia clínica. E os anos passaram. E vi que, definitivamente, minha praia é outra.

       Não sei até que ponto estou em outra área pois meu talento é maior para ela, se por contingências ou se por escolha mesmo. O fato é que me especializei na área da clínica, trabalho nela desde os estágios da universidade, meu consultório é lotado, e tenho na maior parte dos casos, sucesso no tratamento dos pacientes. Faço o grosso, porque tratar o paciente exige paciência, tempo, estudo, carinho, compromisso. Quem diagnostica, acredito que tenha um perfil mais frio, porque a coisa acaba ali com a entrega do laudo, que vai ou para o psicólogo e/ou psiquiatra que o trata, ou para o juiz solicitante que precisa da avaliação para decidir se o sujeito pode ser solto da cadeia e se reintegrar a sociedade, e etc. A coisa toda acaba ali e o psicólogo diagnosticador nunca mais verá o sujeito na vida, avalia e pula fora, deixa o pepino para quem trata.

        E o negócio, minha gente, é que eu gosto de descascar um abacaxi. Amo um problema. Adoro um enigma, sou curiosíssima e não descanso enquanto não desvendo o mistério. Precisa dizer mais, como minha área poderia ser outra? ah, e eu gosto de gente. E de gente problemática. Gosto de almas profundas, sentimentos escusos e controversos, me interesso pela ambiguidade, e acima de tudo admiro a capacidade humana de se recriar e ser feliz. E eu gosto de trabalhar, amanhã é feriado nacional numa sexta feira, e vou fazer acompanhamento terapêutico e uma consulta de urgência. Ah, apareceu o serviço, eu abraço. Cada paciente que chega é uma aventura diferente.

        Tratar não tem glamour, vc ouve todo tipo de loucura, porcaria, sofrimento, promiscuidade, cava no âmago e nem sempre é bonito e nunca será simples. Fazemos cirurgias nos corações, mentes e almas... com palavras, gestos, silêncios. Cortamos, despedaçamos, desnudamos, costuramos, jogamos alcool nas feridas, as reabrimos várias vezes para "higienizá-las"... Todavia o que falta de glamour, sobra nos sorrisos reconstruídos ao fim do processo "doloroso" da psicoterapia. Tratar é libertador!"

sábado, 10 de novembro de 2012

“Paciente” ou “Cliente”?

         Texto publicado em 22/02/2013 pelo Jornal Opnião

       Na universidade, era quase um consenso entre os professores que o paciente do consultório de psicologia não deve ser chamado de “paciente”, e sim de “cliente”.
       Admito que não gosto, não concordo, nem pratico o uso da expressão “cliente”. O argumento dos professores pela preferência desta expressão, dizem, se dá pela origem da palavra – paciente vem de "passivo", e nossos mestres dizem que o paciente que faz psicoterapia deve ser “ativo”. Além disso, também se diz que “paciente” lembra médicos, remete a idéia de “doente”, numa condição passiva, a espera do tratamento.
        Ok. Mas vejam como penso e sinto. “Cliente”, para mim, remete a comércio. Eu sou cliente de lojas, bancos, academia, correios, restaurantes. O consultório de psicologia não é um mero serviço que se compra. Estudei 5 anos e meio o funcionamento da mente e tratamentos e atendo pessoas com distúrbios emocionais e/ou mentais. Não estou vendendo pipoca, liquidificador ou roupa, presto um serviço de saúde, de caráter preventivo, diagnóstico, e de tratamento. 
        Nossa relação com o paciente não é simplesmente uma relação de "compra e venda". Conhecer o outro em seu âmago nos torna íntimos, cúmplices, ainda mais se estão num momento frágil. Não entendo a pessoa que busca atendimento psicológico como um “cliente”, tive clientes quando eu vendia Avon. Essa pessoa é um paciente, alguém em situação de saúde vulnerável, que precisa de um atendimento especializado. Não é só corpo que adoece; não é só médico que tem paciente. Uma mente doente ou fragilizada precisa ser tratada, até para o corpo não adoecer junto, e vice-versa. 
         Psicologia é saúde, é ciência. Não é bate papo, “filosofia”, divã pra desabafar. Não vendemos ombro pra chorar, ouvidos e conselhos de revista Cláudia. Penso que quando chamamos nossos pacientes de “clientes”, estamos “vendendo” algo, como que supérfluo e dispensável - e o tratamento psicológico não o é. Quem faz uso de serviço de saúde é paciente. 

Bullying no trabalho: o que fazer?

Texto publicado no Jornal Opinião dia 26/10/2012 e no Jornal de Beltrão 15/05/2012

       
          “Agressão” vem do latim aggressione - ataque; agressão. Significa ferir, machucar, danificar, traumatizar. Há vários tipos de agressão, como a física, a verbal etc, todavia o interessante é notar que no dia a dia, no trabalho, é comum vivenciarmos situações agressivas, as quais por vezes nem percebemos. Estamos “engolindo” agressões e desrespeito como se isso fosse “normal”. Você acha que deve ser “normal” ser agredido?

          Sabe o mau humor do colega de trabalho? Ou aquela piada, pergunta ou comentário inconveniente? Ou ainda aquela pessoa (em todo lugar tem) que adora fofocar, mentir e causar intrigas? São por vezes agressões gratuitas, que podem ser bastante nocivas e minar a autoestima da vítima. Pessoas que cometem com frequência agressões gratuitas, em geral, apresentam recalques profundos e/ou um potencial perverso intenso. Alguns são psicopatas, porém não aqueles que “matam” literalmente, mas do tipo que “matam” aos poucos, torturando os outros psicologicamente (esse segundo tipo de psicopata é o mais comum). É a forma de prazer predileta deles. É dificílimo alguém que não seja um profissional, identificar esse tipo de psicopata, pois são habilidosos manipuladores. Pessoas sensíveis, de pouca auto-valorização e que costumam engolir tudo sem dar um pio, em geral, são seu prato preferido.

          E o que parecia uma piadinha inoportuna ou uma certa coação, na verdade, é um bullying. Ás vezes, chegam pacientes no consultório com uma vida tranquila e produtiva, que todavia convivem com alguém que tem prazer de lhes atormentar no trabalho. Essas pessoas acabam rendendo menos e atingindo níveis de insatisfação altos.  As vezes, a vida inteira da pessoa é afetada pois, é no trabalho, que passamos o maior número de horas. E sofre o empregado e o empregador. Daí a necessidade de toda empresa ter uma psicóloga em seu RH ou, ao menos, realizar uma consultoria psicológica — pessoas perversas acabam com o ambiente de trabalho e um psicólogo tem condições de identificá-las, o que evita prejuízos para ambos.

         E quais as consequências psicológicas da agressão em qualquer de suas formas? Sentimentos de humilhação e inferioridade; fobias; traumas; dificuldade de confiar nas pessoas e de se relacionar; desânimo; improdutividade; obesidade; entre outros. Agredir, ferir o outro, é algo muito sério, por isso, defenda-se! Valorize a sua pessoa. Busque argumentos, enfrente o agressor com um diálogo coerente e coloque a possibilidade de buscar autoridades (seja o chefe, a polícia, a justiça etc) para resolver a violência. Pessoas agressivas ou perversas temem autoridades e às vezes é a única forma de resolver uma perseguição. Imponha-se, mostre que você não deixa ninguém lhe pisar, e ele não pisará mais. Saia da posição de vítima. O outro só vai até onde permitimos.

Montando um consultório de psicologia


O ambiente do consultório de psicologia precisa ser agradável. Isso qualquer um sabe e, na verdade, se aplica a qualquer tipo de consultório. Mas em se tratando da área da psicologia, a importância é ainda maior.


O psicólogo não é o profissional que apenas "atende" pessoas em sofrimento, em angústia, ou em doença psíquica. O psicólogo as acolhe. Então, é preciso um ambiente acolhedor, aconchegante, organizado, limpo, cheiroso, bonito, bem localizado, refrigerado, seguro, silencioso, isolado acusticamente, iluminado na medida certa. O paciente precisa se sentir a vontade, e a primeira condição para isso é se sentir acolhido - e o preparo do ambiente certamente também vai contar para isso.

Um ambiente que atenda às expectativas acima citadas não é tão fácil montar, embora possa parecer, e muito menos barato. Além disso, o local deve ter a licença da vigilância sanitária e dos bombeiros, que são garantias de que respeita as normas de segurança brasileiras. Psicólogos recém-formados que pretendem abrir seu primeiro consultório, em geral, sofrem um pouco. É a insegurança da inexperiência, somada a falta de dinheiro comum a todo começo de profissão, ... Aluguéis, despesas e impostos são caros, o tamanho das salas está cada vez mais reduzido, poucas tem um isolamento acústico e iluminação satisfatórios,... Sem contar a mobília, os acessórios afins, tais como o ar condicionado, a impressora, o netbook, os brinquedos, etc e o material científico, que são os testes.

basiquinho...
A minha intenção com esse texto não é fazer um estudante da área ou um recém-formado desanimar. É delicado começar numa sala em condições ideais e a realidade é que muitos consultórios deixam a desejar em vários desses fatores. Pode ser delicado, mas não é impossível! A criatividade vai contar bastante também na redução de custos, assim como o bom gosto. Você pode pedir aquelas poltronas antigas da sua avó, e reformá-las, por exemplo. Podem ficar bem modernas e sairão bem mais em conta. Você pode ir aos móveis usados e achar uma mesa bacana, prateleiras bonitas, um espelho simples, um abajour diferente, e tudo sairá mais barato e, se bem combinados, vão deixar seu consultório charmoso, até com um toque original.

mesa em L, original
Outra dica é conversar com os parentes e amigos próximos, para saber se podem colaborar te presenteando com algum objeto, inclusive usado. Sua mãe não quer mais o tapete da sala? Aproveite-o. Tem uma tia costureira? Peça-lhe que faça as cortinas. Tem um primo dono de papelaria? Peça-lhe papéis. Mobilizar as pessoas por uma causa sua não é vergonhoso, pelo contrário, elas perceberão seu empenho frente às condições adversas e certamente se orgulharão de você. Além do mais, ser apoiado nos dá forças para continuar.

cantinho infantil
O primeiro consultório em que atendi (sem contar a da clínca-escola) foi gentilmente cedido por uma amiga formada. Ela não me cobrou um centavo pelos atendimentos que realizei, foi um incentivo e tanto. Depois montei um consultório nessas condições em que citei acima, com bastante criatividade. Hoje atendo numa clínica de saúde, mas ainda quero muito mais. O ambiente do consultório conta muito, porém a atitude do profissional conta muito mais. A postura acolhedora e a firmeza da psicóloga é que farão a diferença - contudo, o ambiente apropriado sem dúvida vai complementar o acolhimento do paciente. Afinal, ele pode "relevar" alguma falha no ambiente, mas a falha na postura da profissional pode destruir em segundos o andamento da psicoterapia.