quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Diagnóstico X Tratamento psicológico


      Escrevi essas considerações dia 07/09/12...  
      
      "Confesso que sempre me deslumbrei com a área diagnóstica da psicologia. Diagnosticar personalidade, patologia, cognição e lá vai o trem, não é pra qualquer psicólogo. A aplicação dos testes exige o domínio do instrumento, um alto conhecimento psicológico, além da perspicácia e sensibilidade do olhar clínico. Sempre considerei e ainda considero "glamourosa" essa área. Minha primeira pós foi escolhida baseada nesse glamour, e lá fui eu fazer neuropsicologia clínica. E os anos passaram. E vi que, definitivamente, minha praia é outra.

       Não sei até que ponto estou em outra área pois meu talento é maior para ela, se por contingências ou se por escolha mesmo. O fato é que me especializei na área da clínica, trabalho nela desde os estágios da universidade, meu consultório é lotado, e tenho na maior parte dos casos, sucesso no tratamento dos pacientes. Faço o grosso, porque tratar o paciente exige paciência, tempo, estudo, carinho, compromisso. Quem diagnostica, acredito que tenha um perfil mais frio, porque a coisa acaba ali com a entrega do laudo, que vai ou para o psicólogo e/ou psiquiatra que o trata, ou para o juiz solicitante que precisa da avaliação para decidir se o sujeito pode ser solto da cadeia e se reintegrar a sociedade, e etc. A coisa toda acaba ali e o psicólogo diagnosticador nunca mais verá o sujeito na vida, avalia e pula fora, deixa o pepino para quem trata.

        E o negócio, minha gente, é que eu gosto de descascar um abacaxi. Amo um problema. Adoro um enigma, sou curiosíssima e não descanso enquanto não desvendo o mistério. Precisa dizer mais, como minha área poderia ser outra? ah, e eu gosto de gente. E de gente problemática. Gosto de almas profundas, sentimentos escusos e controversos, me interesso pela ambiguidade, e acima de tudo admiro a capacidade humana de se recriar e ser feliz. E eu gosto de trabalhar, amanhã é feriado nacional numa sexta feira, e vou fazer acompanhamento terapêutico e uma consulta de urgência. Ah, apareceu o serviço, eu abraço. Cada paciente que chega é uma aventura diferente.

        Tratar não tem glamour, vc ouve todo tipo de loucura, porcaria, sofrimento, promiscuidade, cava no âmago e nem sempre é bonito e nunca será simples. Fazemos cirurgias nos corações, mentes e almas... com palavras, gestos, silêncios. Cortamos, despedaçamos, desnudamos, costuramos, jogamos alcool nas feridas, as reabrimos várias vezes para "higienizá-las"... Todavia o que falta de glamour, sobra nos sorrisos reconstruídos ao fim do processo "doloroso" da psicoterapia. Tratar é libertador!"

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