terça-feira, 9 de abril de 2013

Medo da Felicidade


Texto publicado no Jornal Opinião dia 05/04/13


     
      É uma característica de algumas neuroses o medo do “topo”. Certas pessoas, quando estão perto de atingir um objetivo, alcançar o sucesso, sentem grande ansiedade e dão passos para trás. Por exemplo, pessoas que começam mil coisas e não terminam nenhuma, ou que concluem, porém se entediam com facilidade, como se nada as satisfizesse. A felicidade para elas parece um evento circunstancial e efêmero, quando não o é (isso seria alegria). Grande parte das vezes, a resistência ao topo, ou à vitória, ou ao sucesso, se deve ao medo de conseguir se sentar no trono, e perdê-lo; ou seja, é o medo do fracasso. Pois só é possível fracassar, se houver tentativa de sucesso. E como a felicidade implica certa completude, também requer a tentativa de alcançar bons resultados, para não dizer os melhores.

     “Melhor nem terminar o curso, imagina se eu me formo e não arrumo emprego?” ou “Imagina se eu arrumo o emprego e não sou bom?” ou “Imagina se eu for bom mas fulano for melhor?”. Em geral, pessoas com medo da felicidade apresentam insegurança quanto ao próprio potencial, baixa autoestima ou ainda um medo exacerbado de falhar, por não atingir as expectativas alheias ou próprias. Para evitar o risco de fracassar, muitos optam pela zona de conforto, que é a acomodação, o não-desafiar o próprio ego. Logo, consideram mais apropriado colocar a culpa na dor de barriga, por causa dela faltaram a prova do concurso. Ou no mercado de trabalho, que é “ruim”, é “injusto”, ou o chefe é “chato”, por isso não são bem-sucedidos. Desse jeito, nunca serão fracassados. Correto?

     Errado. Desde quando o quase, a metade, o pouco, ou restos fizeram alguém feliz? O maior fracasso de uma pessoa é a infelicidade. Portanto, é preciso ter sonhos, e esforçar-se para realizá-los. Conclua, finalize, concretize, feche o ciclo para que outro recomece. Aprecie a simplicidade de um dia bonito, namore, passeie, trabalhe, seja capaz de ter um mínimo de ternura, para conseguir se satisfazer até nas amenidades cotidianas. Abandone as dores ou questionamentos profundos, arrisque-se sendo raso... Valorize aquilo que aparece, que está na superfície, que levanta por força própria porque quer respirar. Descomplique.

     Ter medo da felicidade parece até absurdo, já que é tão bom se sentir feliz. Porém senti-la pressupõe ousadia e coragem, posto que substitui a angústia da mediocridade ou da dor, por uma angústia ainda maior, que é a do amor, do risco de viver cada dia. De ser e querer o inteiro - nada de migalhas. A felicidade exige o mais difícil: que abandonemos a acomodação e sejamos plenos. Se você não consegue ser feliz, mesmo munido dessas orientações, busque uma psicoterapia. E seja feliz! 


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