domingo, 5 de maio de 2013

Projeto de deputado não propõe terapias “cura-gay”, e sim a liberdade profissional do psicólogo

      
   Texto publicado no Jornal Opinião dia 10/05/2013


Este assunto é de utilidade pública. Não trata apenas de homossexuais, mas sobre a liberdade no Brasil e o preconceito ideológico do nosso Conselho Federal de Psicologia.

Retrocesso é excluir uma minoria em detrimento de outra!  
PDL FOI APROVADO dia 19/06/13! viva a liberdade e a ciência!!
Os deputados Marco Feliciano e João Campos
      Está havendo uma discussão na mídia sobre o Projeto de Decreto Legislativo 234/11, de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), que objetiva anular o parágrafo único do artigo 3.º e todo o artigo 4.º de uma resolução interna do Conselho Federal de Psicologia, que condena a atuação de psicólogos em tratamentos que auxiliem possíveis homossexuais insatisfeitos com a própria sexualidade. O CFP exige, “indiretamente”, que as psicólogas aconselhem estes pacientes a se "assumirem" homossexuais se quiserem ser felizes - “convencendo-os” a “mudar” seu possível desejo de ser ou de se tornar heterossexuais. Essa pode ser a verdade de muitos, mas não é a de todos (a exemplo dos inúmeros casos de ex-homossexuais, de que falaremos mais adiante). A pena para o psicólogo que der continuidade a psicoterapia, aceitando esse tipo de desejo de seu paciente, é a perda de seu diploma. E no 4° artigo, as psicólogas estão proibidas de manifestar qualquer opinião contrária a isso em meios de comunicação de massa.  
Liberdade de escolha só para homossexuais?
       Essa tal resolução, ocorrida em 1999, a qual deveria supostamente se constituir como “avanço” social ou conquista para os homossexuais, ao meu ver, é uma suspensão crassa da liberdade. Nenhuma psicóloga e nenhum outro ser humano tem o direito, e muito menos a obrigação, de alterar o desejo de ninguém. Isso é o cúmulo. Desde 1973, a homossexualidade não é considerada doença, tanto pela OMS quanto pelo DSM IV. Cada um deve ter o direito de exercer sua sexualidade como bem entender. Da mesma forma que uma pessoa deve ter o direito de ser homossexual, também deve ter o direito de não sê-lo. Creio que isso é de compreensão óbvia.
'Ex-homossexuais': "felizes e com Deus". 
Respeitemos!  

      


        Então, você pode se perguntar: mas em que caso, um suposto homossexual, desejaria se tornar um heterossexual? Há inúmeros casos, relatados em livros e artigos científicos, de pessoas que se dizem “ex-homossexuais”, em especial nos EUA. E em boa parte dos casos, alegam que seu motivo maior para mudar, foi a sua religião. Todos sabem que católicos e evangélicos não concordam com a prática homossexual. E nós, psicólogas, sabemos que para uma pessoa ser feliz, precisa ter atitudes congruentes com seu conjunto de valores e crenças. Se essas pessoas contam que finalmente estão felizes, pois conseguiram ajustar seu desejo sexual às premissas de sua fé - quem somos nós para julgá-las? Por que o Conselho Federal de Psicologia proíbe a elas o atendimento psicológico condizente ao desejo de reconduzir seus desejos sexuais? 
       
Sexualidade não é "definitiva", mas subjetiva
                                                 

       Numa entrevista a rede globo acerca desse PDL, a Psic. Bianca, representando o CRP-SP, afirmou que "cientificamente" é sabido que a homossexualidade (poderia ter dito também heterossexualidade) é considerada uma condição, portanto não passível de mudança, e modificar isso seria algo de muito sofrimento. Desculpe, mas não conheço nenhum cálculo que comprove isso. Isso pode ser verdade para muitos, mas não para todos. Estamos falando de seres humanos, que diferem entre si. A sexualidade não é um número, ela se constrói num corpo e numa mente inseridos numa cultura. Só aí, temos milhares de aspectos subjetivos. Várias psicólogas e psicanalistas contemporâneas,  a exemplo da Psic. Dra. Regina Navarro, dizem, por exemplo, que a tendência da sociedade no futuro é ser bissexual. Se a sexualidade se modifica com a cultura, então ela é inexata, logo o argumento de que é "definitiva", cientificamente falando - é no mínimo, questionável. Já a escolha, a qual está na esfera da liberdade, essa me parece inquestionável. Se o indivíduo julga-se capaz de alterar seus desejos, a psicóloga não pode proibi-lo ou encerrar a terapia ali, como o Conselho obriga. E obriga pautado em que? Cientificamente falando, não há prova alguma acerca da orientação sexual dos indivíduos, apenas teorias, logo, é um absurdo nosso conselho "proibir" nosso trabalho baseado em pura ideologia de militância gay. Freud, uma referência máxima da psicologia, que tem uma boa teoria sobre como se constrói a orientação sexual, fala que a reorientação sexual é possível, ainda que se restrinja a uma minoria. Outro ponto alto da entrevista é a suspensão do artigo 4°, que obriga as psicólogas com uma opinião divergente acerca do assunto, a se calarem. Onde já se viu, por pensar diferente dos demais sobre um tema subjetivo, um profissional ser obrigado a fechar a boca? Precisamos de regulamentações, não de ditadura. (http://g1.globo.com/globo-news/entre-aspas/videos/t/todos-os-videos/v/projeto-que-autoriza-a-cura-gay-e-lancado-na-comissao-de-direitos-humanos-da-camara/2551926/)   
   
Manipulação da mídia distorce o projeto:
não é cura e nada tem a ver com religião,
e sim com liberdade 
Apesar de hoje a aceitação da homossexualidade ser mais ampla – principalmente pelo meio midiático e artístico – vemos que um preconceito ao contrário está surgindo. E vemos que estes formadores de opinião, de modo antiético, estão distorcendo o projeto de João Campos, afirmando que ele propõe a permissão de terapias “cura-gay”, insinuando que o deputado considera a homossexualidade uma doença. Isso é mentira. Outros, enfeitando mais, atribuem a inclusão desse PDL em votação em plenária ao polêmico presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Marco Feliciano  – quando o mesmo apenas fez o que é sua obrigação.
         
As psicólogas têm o dever de respeitar a escolha do paciente

     Cada um deve ser livre para ser feliz e exercer a sua sexualidade a sua maneira. Isso é liberdade. O CFP está vetando não apenas a liberdade das psicólogas de atuarem,  como também desse tipo de público ter acesso a uma psicoterapia. Isso é fazer acepção de pessoas. Ou se tem liberdade, ou não se tem. Essa coisa de “liberdade aos gays” e “proibição aos que não querem ser gays”, está mais para uma postura de militância radical gay, que para um Conselho Federal de Psicologia. Tais normativas são uma forma de discriminação, de imposição, e uma falta de respeito. Para não dizer, o tal preconceito reverso. Preconceito se vence com respeito, não com a criação de outro preconceito. E respeito se constrói com liberdade.  Espero que o CFP, assim como toda a sociedade, compreenda que a liberdade é um direito de todos. E a psicoterapia também. 



O TEMA DESSE PDL É LIBERDADE

CLIQUE e assista parte do debate sobre o projeto. No vídeo fica claro como os deputados que defendem a permanência da regulamentação se atem ao questão da cura-gay, que não tem NADA a ver com o projeto, e ainda ouvimos o absurdo do deputado Jean Willys dizer que o psic. Silas Malafaia e a psic. Marisa Lobo não tem cacife para se posicionarem enquanto psicólogos pois "não tem currículo lattes", uau, pensei que meu diploma já me assegurava esse direito. A fala do deputado João Campos é sucinta e clara, e foca no direito a LIBERDADE. Silas Malafaia fala do absurdo praticado pelo CFP, que o está processando por se pronunciar publicamente como pastor (agora psicólogo  não pode ter religião também), finalizando com o pronunciamento do Psic. Dr. Roberto Parloff, ex-presidente do ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA: "Banir a terapia de reorientação é errado, porque: 1°, ainda não temos todos os dados; 2° dê ouvidos a eles (os pacientes); 3° vocês estão dificultando as pesquisas". 







Reinaldo Azevedo, colunista da Revista Veja também argumenta a favor desse PDL, excelente reportagem: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/la-vem-mais-barulho-na-comissao-presidida-por-feliciano-agora-imprensa-inventa-que-projeto-autoriza-cura-gay-e-trata-homossexualidade-como-doenca-e-mais-uma-mentira-influente-ou/#comment-2589119

Seguem os artigos do Conselho Federal a serem sustados se o PDL for aprovado:
Art. 3° – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.” (Este deve se manter intacto, e SOZINHO já garante o despreconceito aos homossexuais)
Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades. (este deve ser alterado)
Art. 4° – Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.” (este deve ser alterado).

Para mudar essa situação, apoiamos o PDL 234/11 e convocamos todos os cidadãos brasileiros que defendem a democracia e a liberdade de expressão a enviar e-mails aos deputados da CDHM para que os parlamentares digam “sim” à proposta desse projeto. A seguir, a relação de contatos dos membros da Comissão:

Observação: copie todos os e-mails abaixo e cole-os no espaço para destinatário, enviando para todos os deputados de uma só vez.
dep.liliamsa@camara.leg.br; dep.andersonferreira@camara.leg.br; dep.keikoota@camara.leg.br; dep.pastoreurico@camara.leg.br; dep.henriqueafonso@camara.leg.br;dep.simplicioaraujo@camara.leg.br; dep.antonialucia@camara.leg.br; dep.pastormarcofeliciano@camara.leg.br; dep.otoniellima@camara.leg.br; dep.dr.carlosalberto@camara.leg.br; dep.domingosdutra@camara.leg.br; dep.erikakokay@camara.leg.br; dep.nilmariomiranda@camara.leg.br; dep.padreton@camara.leg.br; dep.marioheringer@camara.leg.br

36 comentários:

  1. realmente, ninguém fala em cura gay, ou em homossexualidade como doença, e sim como uma escolha individual. mas a imensa maioria das pesquisas mostram que a orientação não é uma questão de escolha, e as tentativas de mudança podem causar danos muito maiores.

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  2. Pois é. A questão, contudo, é respeitar a escolha do paciente, sendo mais dolorosa ou não, só ele é que deve julgar, a vida é dele. Vc poderia me dizer de qual pesquisa está falando? Obrigada pelo comentário.

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    1. Concordo em relação ao respeito às escolhas, sou sempre a favor da liberdade individual, mesmo quando se trata de dano auto-infligido. Como é o caso das drogas, por exemplo.

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    2. em relação às pesquisas, aqui tem algumas:

      http://www.apa.org/pi/lgbt/resources/therapeutic-response.pdf
      http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10615-004-0543-2
      http://www.eric.ed.gov/ERICWebPortal/detail?accno=ED327767
      http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18412828

      Esse último é um meta-estudo que avaliou 28 estudos feitos nas últimas décadas e concluiu que a pesquisa sobre essas terapias é metodologicamente falha, e viola princípios de dignidade, competência e responsabilidade social.

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    3. ah, só completando o primeiro comentário, eu acredito que as igrejas, famílias, ou grupos de apoio tem todo direito de auxiliar as pessoas que quiserem mudar de orientação sexual. Mas os psicólogos tem que se balizar por princípios éticos, que incluem, por exemplo, não causar danos. E é consenso científico que essas terapias causam.

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    4. Compreendo. Mas discordo que seja "consenso científico" que se causem danos, embora seja um tanto óbvio. Só que quem decide se é mais ou menos sôfrego abandonar uma forma de desejos sexuais ou uma crença, seja cultural ou religiosa, é o paciente, não o CFP.

      Tmabém penso que não é porque temos estudos inconclusos sobre a possibilidade de uma nova forma de conduzir os desejos sexuais, que a psicoterapia deve ser proibida a eles, não acha? Além disso, a psicologia é um ciência híbrida. Antiético é fazer acepção de pessoas e querer julgar o que é melhor para elas.

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    5. Minha cara, sexualidade é questão de orientação e não de escolha. Inferlizmente, pessoas como vc jamais entenderão isso. Acho que quem precisa se tratar é vc.

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    6. olá, eu não pretendia voltar aqui, porque achei que já tinha dado minha contribuição à discussão nos comentários acima, mas agora dei de cara com esse comentário anônimo do dia 10 de maio, que não foi feito por mim. Achei ofensivo, pessoal e desnecessário.
      Bom, li sua resposta e ainda discordo das suas opiniões, mas acho que essa discussão já está se dando num fórum mais amplo, e eu acredito que a longo prazo o respeito e a liberdade devem prevalecer.

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  3. Brilhante. Sua opinião é com certeza imparcial. O CFP está perdendo e estão chorando pelos cantos como criança mimada. Faço Biologia, e quanto mais estudo mais eu digo: As Ciências da Vida não são exatas e nunca serão. O que eu gosto hoje posso não gostar amanhã. Isso serve para a sexualidade tb. Oras, esse CFP não está lidando com prédios e sim seres humanos. Quem são eles para dizerem o que é bom para as pessoas? Quem melhor do que a própria pessoa para dizer se está infeliz ou feliz? Forçar alguém a se "aceitar", me desculpa, é bizarro, pois não implica só na opção dela como pessoa, vai de encontro com um monte de relações que o paciente tem. O CFP vai pagar o aluguel do cara quando ele for expulso de casa por não ter mais condições de viver em paz com sua família? O psicólogo vai ser responsabilizado se o paciente se aceitar e ainda sim se matar? O CFP vai dar as caras quando um ex-gay chegar na TV e dizer que foi curado? Sabe o pior? Acredito que mais cedo ou mais tarde o CFP vai começar a perseguir pastores e padres por conselhos teológicos. Já que estes estudam para guiar as pessoas, já já vão dizer que é exercício ilegal da psicologia.

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    1. É isso! Cada um sabe de si e ponto. E também concordo quanto a perseguição a pastores, padres e afins, porém infelizmente ela já está acontecendo. O CFP publicou em seu site uma nota de repúdio ao pastor Silas Malafaia por ele ter pronunciado suas crenças na entrevista à Marília Gabriela. Isso é muito sério, pois ele se colocou como pastor, não como psicólogo. Daqui a pouco, psicólogo não poderá ter religião - os evangélicos em especial. Querem cassá-lo por isso, o cúmulo. E o pior, milhares de psicólogos apoiam. Isso fere os direitos básicos da democracia, da constituição brasileira, que é o de livre crença.

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  4. A priori gostaria de parabeniza-la pelo seu blog, caí aqui por indicação do google, mas que oásis de boa argumentação no mar da internet hein? Meus parabéns!
    Vou começar me situando, também sou psicólogo à quatro anos porém tive uma formação e atuação voltada para a psicometria e avaliação psicológica, área que dedido o mestrado atualmente.
    Agora vamos às divergências, interessante como o mesmo parágrafo pode produzir tanta interpretação diferente, realmente a semiótica é um belo campo de conhecimento, digno de tarde de pesquisas. Digo isso com um propósito, analise:
    "Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades."
    Com base nesse parágrafo você aponta:
    "O CFP está vetando não apenas a liberdade das psicólogas de atuarem, como também desse tipo de público ter acesso a uma psicoterapia."
    Mas repare na inflexão verbo propor no meio da normativa.
    Com isso eu concluo que está proíbido a exposição como estratégia de intervenção, não o prosseguimento da atuação caso a proposta parta por iniciativa do paciente.
    Claro qeu assim como qualquer códico de conduta a do nosso conselho visa estabelecer os preceitos para a prática profissional, deixando liberdade para atividades da ciência psicologica. Práticas profissionais essas que DEVEM estar respaldadas cientificamente.

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    1. Olá Felipe, obrigada pelos elogios! Deixe-me esclarecer melhor essa questão dos artigos, creio que entendi o que vc quis dizer. Supostamente, o artigo 3° (Art. 3° – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados), presume que psicólogos poderiam adotar uma ação "coercitiva" (palavra mal colocada, ao meu ver), se o tratamento fosse solicitado. Entretanto, o parágrafo único do 3° artigo contradiz essa interpretação (Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.), quando informa que nós não podemos colaborar com eventos ou serviços que proponham tratamento das homossexualidades. Por isso, ele precisa ser suprimido, para a interpretação que vc e eu demos, sobre o 3° artigo, valha de fato. Esse é o objetivo desse PDL, cancelar o parágrafo único e o 4° artigo.

      E mais um detalhe, nem tudo que se trata na psicologia é patológico, a exemplo da maior parte das neuroses. Porém, um leigo lendo os artigos, pode entender assim - e achar que "tratar homossexualidade" é considerá-la doença. Na verdade, creio que isso foi intencional e tendencialmente mal escrito pelo CFP.

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  5. Li e concordo contigo.

    Por exemplo, se eu sou desorganizado, e ser desorganizado não é uma doença, o que impede de, na minha escala de valores, achar que ser desorganizado vai contra os meus interesses e, por direito, buscar auxílio profissional para mudar isto?

    Eu entendo a postura de vetar os artigos
    Eles querem propor que não se trate a homossexualidade ou a heterossexualidade como doença... Muito menos se for com base em preceitos religiosos.

    Mas nem apenas de patologias mentais tratam os psicólogos
    Vejo os psicólogos como cientistas do comportamento humano.

    Seja ele patológico, cultural ou instintivo.

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    1. Somos subjetivos. O fato é que para obter saúde emocional, sabemos que as ações devem estar congruentes com os valores e as crenças da pessoa. Se estes se confrontam, a pessoa precisará abrir mão de algum. Cabe a ela escolher. E o CFP não tem o direito de dizer que será menos doloroso trocar a religião ou os valores, que conduzir de outra maneira sua sexualidade. E pior, privá-la de atendimento se sua escolha for a oposta. Só a pessoa pode saber.

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  6. Entendo o seu lado e o seu pensamento Michele, assim como o posicionamento do Sr. Reinaldo Azevedo (colunista conservador de direita da Veja), mas discordo com os argumentos e explico a seguir.

    A resolução 01/99 não priva atendimento psicológico à ninguém, em nenhum momento é impedido o acolhimento e o acompanhamento psicológico a qualquer pessoa, como é afirmado em seu texto ("Por que o Conselho Federal de Psicologia proíbe a elas o atendimento psicológico? [...] O CFP está vetando não apenas a liberdade das psicólogas de atuarem, como também desse tipo de público ter acesso a uma psicoterapia").

    Ao que parece, é que "algumas" pessoas (o que não me parece ser o seu caso, que soa mais como uma questão de opinião, e vc tem o direito disso, claro!) tem interesse em propor terapias de reversão enquanto psicólogos, e estão buscando respaldo para isso, JÁ QUE pleiteiam, com a PDL do Sr. João Campos, o direito de se pronunciarem, ENQUANTO PSICÓLOGOS, "de modo a REFORÇAR os PRECONCEITOS sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica" e pretendem colaborar com "eventos e serviços que proponham TRATAMENTO e CURA das homossexualidades" (que são os textos que a PDL deseja retirar).

    Sou psicóloga e a Resolução 01/99 não tira em nada a minha liberdade de opinião ou de atuação. Não entendo os psicólogos que se colocam contra o parágrafo único e o Art.4º, afinal de contas, que psicólogo quer PROPOR CURA (porque o texto, repito, diz da proposta que PARTE DO PSICÓLOGO)ou reforçar preconceitos homofóbicos a partir de seus pronunciamentos enquanto profissional?? (que é o que se trata os textos que se pretende alterar).

    Fico pensando em que exatamente a resolução CFP 01/99 tem impedido esses profissionais... Impede de propostas de cura e reforço de preconceitos? Realmente, é difícil entender diante de um texto tão claro como o da Resolução.

    Obrigada pela dica de leitura e parabéns pelo blog! Abraços!

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  7. Olá Denise, obrigada pela opinião. Vamos lá.
    Não acho, de modo algum, que sustar o parágrafo único ou o artigo 4° vai abrir portas a terapia de reversão, ao menos não aqui no Brasil. Contudo, acho que elas devem estar abertas, pois há poucas pesquisas na área e ciência se constrói com pesquisa e liberdade. As pessoas se inclinam a dizer que a orientação sexual é irreversível, mas a verdade é que tal premissa mantém-se no campo do achismo, considerando que as pesquisas científicas são ínfimas e inconclusas - até por serem difíceis de se realizar, tendo em vista que a sexualidade é complexa e multifatorial. O fato é que ninguém pode afirmar isso com todas as letras e muito menos, com todos os números.

    E é inegável os milhares de relatos de pessoas que se dizem mais felizes após terem mudado a maneira como conduziam sua sexualidade, como eu disse, a exemplo dos EUA. Também não foram provados cientificamente, mas eles existem, portanto precisam ser estudados e não ignorados. Não podemos fechar nossa cabeça no quadrado das ideologias atuais, e afirmar que TODO homossexual só será feliz caso se "assuma". Pode ser verdade para a maioria, mas certamente não é a verdade para TODOS.

    Quanto a liberdade de atender, que a Psic. Bianca também relatou na entrevista que estaria garantido pelo cód. de ética, é obviamente anulada pelo parágrafo único.
    (Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades).
    Nem tudo que se trata é doença, para começar, e qualquer psicóloga sabe disso; se trata timidez, pessimismo, baixa autoestima, a exemplos. Se o paciente supostamente deseja tratar sua sexualidade - que poderia ter uma orientação tendencialmente homossexual - é uma decisão dele. Não posso inqueri-lo a ser homossexual. A liberdade individual precisa ser um direito de todos.

    O artigo 3°, SOZINHO, basta-se no entendimento ao despreconceito aos homossexuais, o que perfeitamente apoio.

    Art. 3° – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.” (Este deve se manter intacto)

    Nenhum conselho de psicologia no mundo, creio, julga que é errada a decisão individual de um PACIENTE. Eles não estão apenas vetando nosso trabalho, mas vetando pessoas. Sexualidade não é matemática nem pode ser pura ideologia. E pra fechar com chave de ouro a porta da liberdade, o artigo 4° nos impede de emitir qualquer opinião contrária a respeito em meios de comunicação. Isso é parcial, nada científico, e incongruente com a postura de um conselho profissional.

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  8. Bem, me parece que há um questão de interpretação textual. Em nenhum momento vejo nenhum dos dois trechos, que a PDL deseja retirar, impedir atendimento ou falar da escolha do paciente. Nada impede o profissional de psicologia poder falar sobre o tema, desde que "não reforce preconceitos", que deixe claro que não há comprovações científicas (nem que cura e nem de não cura) e que a psicologia não PROPÕE a cura, mas que o atendimento psicológico àquele(a) que deseja uma nova condução de sua sexualidade (desejo do paciente, reforço), não é negado. Nem a Resolução, nem o CFP afirma que isso é impossível, a interpretação desta negação não consta no texto da resolução, foi uma interpretação dos propositores da PDL e de seus apoiadores.

    E, se há pessoas que por interesse próprio tiveram exito nesta "nova condução sexual" é claro que estas poderão sim serem investigadas pelo campo da psicologia, nada nos impede, desde que sejamos éticos em nossas ações, falas e produções textuais.

    Tanto se trata de uma questão de interpretação, que você continua afirmando o argumento de que "a liberdade de atender [...] É OBVIAMENTE ANULADA [grifo meu]pelo parágrafo único (Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades)". Interpretação esta que é fortemente negada pelo próprio CFP.

    Em minha interpretação, o que está óbvio é outra coisa. O texto afirma que aos psicólogos não é permitido a colaboração e proposição DE CURA das homossexualidades. O que é coerente e lógico, uma vez que as pesquisas na temática, ainda (porque nada aqui é exato)não tem comprovações para tal colaboração e proposição POR PARTE DOS PSICÓLOGOS. O que neste caso me faz reafirmar o meu apoio ao CFP na defesa da sociedade de pseudo-profissionais que ainda querem PROPOR práticas antigas de segregação e de individualização, como fez a Psicologia científica em seus primeiros "experimentos".

    Bem, creio que diante esse impasse interpretativo, não retornarei a este local, mas fico grata mais uma vez pela oportunidade de expressão.

    Cordialmente,
    Denise Viana
    (denise.viasil@gmail.com)

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  9. Olá Denise, a convite de um colega professor de língua portuguesa, poeta, escritor, e professor muito conhecido na cidade de Recife, trará uma interpretação mais apurada, que em breve publicarei aqui. Pois como eu disse, é interpretação de texto, penso, envolve lógica e coerência, e não pura "questão de opinião". Fique a vontade para retornar quando quiser, um abraço.

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  10. Parabéns pelo blog. Pude entender algumas coisas, mas fiquei muito confuso em relação a outras. Se é uma questão de liberdade, então porque em geral as comunidades gays, ativistas, enfim... se mobilizam contra esse projeto de lei? Não deveriam ser essas pessoas os principais interessadas nesta liberdade? Então porque as pessoas rejeitam essa liberdade? Será que tem medo de que caso haja a aprovação deste projeto sejam obrigadas a ouvir por aí: "Então, você é viado porque quer, deveria buscar um psicologo e se tratar". Nisso fica subentendido a ideia de "cura" Pelo que conheço (nada cientifico), as pessoas homossexuais relatam sentirem estes desejos desde sempre, como uma parte delas mesmas. Não sei se você conhece ou fala com pessoas homossexuais, mas pergunte se tiver a oportunidade. Por isso acho a resolução do seu conselho muito oportuna, vejo que sua profissão está buscando fechar as portas e se posicionar contra esse tipo de preconceito.

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  11. Olá anônimo, obrigada. Ótima pergunta. De forma alguma, o fato de uma pessoa ter o DIREITO de escolher, ainda que seja minoria, a reconduzir seus desejos sexuais, seja homo, hetero ou bissexual- e ter o direito ao acompanhamento psicológico - remeterá a sociedade que existe "cura". Entenda, isso é um direito, é liberdade individual. Agora vamos cercear a liberdade de uma minoria em detrimento de outra? Isso é um absurdo. TODOS devem ter direito ao acompanhamento psicológico e TODA psicóloga deve ter o direito de atender respeitando a escolha de seu paciente, sem medo de um conselho que, na suposta intenção de "defender a minoria gay", está fazendo acepção de pessoas. E pautado em ideologias, pois não há provas científicas que a sexualidade é "definitiva".

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  12. Olá, sou o estudante de biologia de novo. Bom, considerando muitos comentários vou dizer o que um conselho faz, pois trabalho em um conselho e vejo gente ser executada, seja eticamente ou judicialmente. Me desculpem aos apoiadores do CFP, mas UMA VÍRGULA pode se será usado contra qualquer profissional se o sistema CFP e CRPs desejarem. É muito lindo quando interpreto textos, mas para o juiz, o que importa é a interpretação que lhe fizerem acreditar. Uma norma não pode de modo algum deixar a MENOR brecha para achismos, e se há contradições há a margem para perseguições sejam qual for. Falo com a segurança de um funcionário de uma Autarquia de Fiscalização Profissional. Se dá margem para interpretar que um psicólogo ser punido por ajudar um paciente, ELE vai ser punido porque quem julga estará interpretando a sua maneira e acabou. Não podemos achar que estamos num conto de fadas. Querem uma noção? Uma lei de 2011 diz que o fato gerador de uma dívida de anuidade de conselho é o registro, e não a atuação. O que o conselho faria se sabe que o profissional não está atuando? Se usasse de bom senso e justiça moral, não cobraria a anuidade, mas não, eles executam judicialmente, pois eles querem a anuidade mesmo que você nunca tenha pisado em um lugar para atuar na área em questão, porque a lei está lá com meia dúzia de palavras dando esse poder a eles. Oras, essa resolução dá margem para mais de uma interpretação? Mudem-na, mas pq não mudam? É para ferrarem SIM com quem eles querem, pois para perseguirem pessoas com outras ideologias basta estar no poder. Uma norma dessa impede sim o psicólogo, pois cada vez que um homossexual chegar para ele pedindo auxílio ele vai lembrar dela e ao invés de preparar um acompanhamento adequado, ele vai adequar o acompanhamento a resolução por MEDO de perder seu registro e ser tachado de homofóbico. Imaginem a situação: Um gay não quer ser gay por qualquer motivo que seja, ele vai ao psicólogo e consegue uma reversão pelo belo trabalho. Esse cara, quando encontrar um outro amigo na mesma situação irá indicar o psicólogo, claro, pois quer ajudar. Só que um outro amigo gay também vê a indicação mas é radical, deixa o amigo ir lá e faz uma denúncia contra esse psicólogo no CRP, GLOBO, BAND......... Pronto: A Manchete: PSICÓLOGO QUERIA CURAR GAYS E PERDE SEU DIREITO DE TRATAR PACIENTES, POIS SER GAY NÃO É DOENÇA. A ditadura começa com pequenas coisas... as ditaduras são ideológicas, não se esqueçam.

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  13. Olá querido, excelente colocação! É exatamente isso que já acontece. Essas "ditaduras" sem dúvida são IDEOLÓGICAS, pois não há provas científicas que comprovem coisa alguma. O absurdo aqui é um conselho profissional querer ser superior até a constituição brasileira, cerceando a liberdade de expressão, a liberdade de escolha do paciente e da liberdade de atendimento do profissional. Como disse o Reinaldo, colunista da Veja, que pesquisou as regulamentações de outros conselhos de psicologia no MUNDO sobre o tema, nenhum conselho teve esse tipo de posicionamento ou PROIBE escolha de paciente ou atendimento algum. Aqui no Brasil, querem vetar as pesquisas na área, alegando que isso seria "homofobia". Ora, pesquisar um assunto inconcluso cientificamente é discriminar? Discriminar é desrespeitar, e estudar é contribuir para o progresso social, até onde sei. Sinceramente, os verdadeiros preconceituosos são exatamente estes, que se auto-intitulam "superdefensores das minorias", mas na hora H, não percebem o direito de quem está do lado.

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  14. Oi Michele. Sou eu novamente, o anonimo do dia 09/05.Obrigado por sua resposta. Agora entendi melhor, seus argumentos fazem muito sentido. Estou pensando em me introduzir pelos campos da psicologia e por isso estou tão curioso (olha eu querendo "me abrir" só porque você é psicologa). Enfim... Agora, só acho uma pena que a proposta de alteração da resolução tenha passado pelas mãos de um senhor com histórico de homofobia, racismo e sexismo. Estou me referindo ao pastor Feliciano. Não sei exatamente qual a verdade sobre isso, estou me baseando nos videos e declarações que vi pela internet afora. Lamento que esse projeto não tenha partido das mãos dos próprios psicólogos. Por isso mesmo não sou tão otimista em relação ao entendimento que a sociedade porventura terá desta alteração. Então, seu raciocínio todo é muito coerente, mas parece um pouco destacado da realidade social. Não seria ideologia sua afirmar que a mudança da resolução jamais "remeterá a sociedade que existe "cura"? Acho isso arriscado, porque existe certa "heteronormatividade", inclusive bastante pregada pelas religiões em geral. Então reconduzir desejos sexuais será no futuro, só um eufemismo. Duvido muito que héteros procurariam esse tratamento, uma vez que eles não sofrem em razão de sua condição. Além disso, se não há provas cientificas de que a sexualidade seja definitiva, também, acredito eu, inexistem provas de que ela não seja. No fim tenho a impressão de que a psicologia no momento não tem muito a oferecer para o paciente com suas terapias, caso ele deseja reorientar seu desejo. Então em nome de que isso seria prometido ? Seria realmente preciso mais pesquisas.

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  15. Bem-vendo novamente, anônimo. Vc elencou novos pontos importantes, e vamos lá. Marco Feliciano, assim como vários políticos evangélicos, na minha opinião, está sendo severamente perseguido pela mídia, que é o 1° poder Brasil (pois ela é quem dita regras, valores e moda). Mídia esta, que comuna com a militância gay. Enfim, penso que Feliciano foi simplesmente mal interpretado pela tal, e tudo começou com um versículo da bíblia que ele citou, que fala sobre maldições na região da África. A partir daí o circo se formou, e a mídia precisa de palhaços, não é? mais conveniente que sejam o oposto dos "descolados" gays, e quer mais oposto que um pastor evangélico? Claro que isso acaba agregando "mais um fator" complicante acerca desse PDL. Complicante para nossa sociedade brasileira, que é pouco crítica, massificada e repleta de intelectualóides. Só vale ressaltar um detalhe: Marco Feliciano apenas cumpriu sua obrigação, de colocar em pauta, um PDL de 2011. Percebe? Todavia, João Campos, também é pastor evangélico, assim como delegado de polícia civil, professor e contador. Agora pergunto: e daí que ele é evangélico? Esse PDL é pautado na premissa da inconstitucionalidade das regulamentações do CFP, as quais CERCEIAM a liberdade do paciente e da profissional psicóloga. Não é baseado em ideologias ou em religião, ponto final. Agora porque o homem é evangélico, a proposta tem que ser tendenciosa? É muito preconceito inverso.

    Entretanto, não acho que seja uma ideologia ou um sonho meu, afirmar que a supressão das mal escritas regulamentações do CFP trarão a ideia de "cura", pois caso o PDLseja aprovado, esta mídia comunada se obrigará a esclarecer a situação. A liberdade individual, de qualquer forma, a meu ver, está acima disso.

    Quanto a fato de João Campos não ser psicólogo, explico: nenhum conselho profissional está acima da constituição, isso é a lei no regime democrático (felizmente). E é por isso que qualquer cidadão (deputado), independente de sua formação, pode elaborar PDL's. Nenhum conselho deve ser "absoluto". Algumas regulamentações do Conselho Federal de Medicina já foram sustadas por PDL também.

    Sobre a "hetenormatividade" - sim ela existe e é apregoada pela maior parte das religiões, com exceção do espiritismo, que também não concorda, mas "aceita" e diz que o indivíduo "pagará o preço" nas "reencarnações posteriores". Mesmo sendo o homossexual excomungado, digamos, de 90% das religiões, abrangendo estas quase a totalidade do país, percebemos o quanto as pessoas não vivem a altura de suas crenças, ao "apoiá-los". Força midiática.

    Por fim, discordo de ti sobre a psicologia não ter muito a "oferecer" no que se refere a terapias que facilitem a desejada reorientação do paciente. Por mais inconclusas que sejam as bases da sexualidade, temos técnicas psicanalíticas, e o próprio Freud afirma que é possivel a "reversão a heterossexualidade", mas sob duas condições: o paciente precisa buscar o tratamento, e estar disposto a abandonar seu objeto sexual (objeto sexual tem um um significado específico na psicanálise). Questiono: como poderemos pesquisar mais esse campo, se nem a psicoterapia nesse caso é permitida? A dimensão que esse PDL abrange é grande.

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  16. Olá Michele. Sou psicóloga, analista do comportamento. Chamou-me a atenção, sobretudo, o titulo do seu texto que se refere a liberdade. Acredito que o pretexto da liberdade tem sido sempre usado como uma fachada perfeita para esconder a coerção. Neste caso especifico refere-se a coerção imposta pela agencia de controle religiosa. Não vejo que a liberdade seja meramente a ação do homem autônomo, de acordo com um suposto livre arbítrio e segundo uma vontade interna. Isso não se sustenta e é certamente o maior problema do mentalismo em geral. Sentir-se livre para escolher não é a mesma coisa que ser livre. Não vejo como uma terapia pode ser proveitosa se ela pretende que o sujeito aprenda a se sujeitar ao poder. Ainda que ele acredite estar se submetendo por livre e espontânea vontade. Devemos sim estar a serviço do autoconhecimento do paciente. Por isso, tanto o CFP, quanto qualquer outra instituição fará muito bem se puder contribuir para que pessoas ou grupos oprimidos socialmente possam exercer contra controle.

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  17. Bem colega, me sinto chateada ao ver pessoas com graduação superior, ainda mais psicólogas, não conseguindo entender uma prerrogativa tão simples, pautada na LIBERDADE INDIVIDUAL e na INCONCLUSÃO CIENTÍFICA acerca da sexualidade. Jamais em religião. Se a maioria acha que a orientação sexual é irreversível, isso pode ser a verdade para a maioria mas com certeza não é para todos. Temos inúmeros relatos de mudança e isso precisa ser ESTUDADO. Afinal, somos cientistas, ou não? Não importa se isso ocorre dentro de igrejas ou comunidades, é um fenômeno humano e portanto merece uma análise científica. A ideologia vigente de que tudo é “homofobia” também não pode reger um conselho profissional, o que deve reger um conselho profissional é a ciência. Isso é preconceito ao contrário. Um pastor que se autointitula “ex-gay”, num debate do programa da Luciana Gimenez em 2012, soltou uma máxima ao presidente da LGBT, que disse que não acreditava na tal "reversão" (o que pode ser a verdade dele, mas certamente não é a de todos): “vc é que o pior preconceituoso, vc não me aceita porque digo que sou ex-gay? eu não tenho que ser o que vc é, eu tenho que ser o que eu sou”.

    Agora devemos oprimir uma minoria em detrimento de outra? Isso é um absurdo.

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  18. Cara colega. Eu entendo seu ponto de vista e reitero que é uma boa reflexão, coerente com o que você acredita ser a liberdade. Acredito também que a formação de profissionais ainda é precária. Muitos psicólogos provavelmente estão se posicionando contra o PDL pura e simplesmente porque o CFP afirma que essa é a posição correta. Outros, um pouco mais críticos, talvez estejam tentando ver o que há de latente nesta idéia. Outros, nem uma coisa nem outra, estão se guiando por valores pessoais. Pessoalmente eu também gostaria de acreditar que fosse pura e simplesmente uma questão ligada a uma suposta liberdade individual. Mas a ciência me inclina a aceitar os fatos, mesmo quando eles contrariam o meu desejo. O psicólogo, como cientista que se espera, deveria no mínimo observar as variáveis que estão em jogo e não se a ater a abstrações para justificar práticas. Além disso, considero a ética fundamental em toda ciência e profissão. Deste ponto de vista, surge a pergunta que inquieta os cientistas desde sempre. A pergunta não é o que pode ser feito. A pergunta é se deveria ser feito. A ciência hoje pode clonar pessoas, mas isso deveria ser feito? A sexualidade pode ser supostamente reorientada? Mas isso deveria ser feito? Essa é uma questão ética importante. Não cabe ao paciente responder, porque ele não é cientista. Acredito que a resposta do cientista que se preze deveria ser um franco e claro NÂO. Não temos essa tecnologia e não vamos sacrificar pessoas para produzir esse conhecimento.

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  19. Então o negócio agora é BIOÉTICA né? Super legal a discussão. Mas eu pergunto a Yasmim. Então para vc pouca importa a vontade do paciente? Antes de vc ser "cientista", vc estudou para ajudar pessoas e não para dizer um NÃO para um paciente! A produção de conhecimento pode se produzida por qualquer pessoa. Não vamos entrar aqui que só pq alguém fez faculdade ele é mais cientista do que um técnico que desenvolveu um novo método. As ciências são de todos e não estão a serviço de títulos acadêmicos. A ciência pela ciência realmente é um ponto importante, mas não se trata disso colega. Ninguém está clonando baratas ou dinossauros, estamos falando da melhoria, ou pelo menos da tentativa de algo que o paciente com seu psicólogo podem melhorar. Acho que é muito legal o filme QUASE DEUSES e ÓLEO DE LORENZO. Esses dois filmes são ótimos para tratar do assunto bioética, beneficência, racismo e PRINCIPALMENTE PARA ACABAR COM ALGUNS EGOS. Devemos tentar? Essa pergunta realmente serve para um suposto clone humano, mas para uma pessoa já viva querendo mudar e tendo sua chance tolhida por pensamentos ideológicos... acho que interessa mais ao paciente esse direito. Quem não desejar fazer uma tentativa não fará.

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  20. Oi anônimo, obrigada por suas colocações. Respondendo ao que você perguntou. Sim, eu diria não ao paciente. Não vejo problema algum em dizer não. Alias, se a pessoa quiser ouvir somente aquilo que deseja escutar seria melhor que procurasse um amigo ou um parente. Não acha? Claro que a vontade do paciente é importante e diz muito sobre ele. Isso não me dá o direito de enganá-lo ou de fazer promessas infundadas. Nas psicoterapias precisamos de uma boa relação terapêutica que não pode ser sustentada por inverdades. O sofrimento do paciente precisa ser acolhido, mas isso não quer dizer que o profissional deve se propor a realizar todos os seus desejos.
    Respeito toda forma de produzir conhecimento. Realmente, há pessoas por aí curando de tudo, desde tetraplegia até câncer. Acredito que valha a pena uma investigação cientifica a respeito, em alguns casos cabe até uma investigação policial. Compreendo que o exemplo que dei sobre a clonagem foi esdrúxulo. Isso foi proposital, pretendia evidenciar que a ciência precisa pensar sobre o que pretende produzir, bem como sobre as implicações sociais e humanitárias daquilo que for produzido. Neste sentido inclusive, existem comitês de ética em pesquisas legitimados pelo estado a fim de avaliar a relevância dos projetos que devem estar alinhados aos direitos humanos. Será que esses comitês também são uma afronta a liberdade? Felizmente já ultrapassamos a época da eugenia e agora somos contrários a uma “ciência”que se preste a estigmatizar ainda mais as pessoas e grupos já marginalizados. As terapias de reversão, reorientação etc... São eticamente inconcebíveis.
    Agora sou eu que te pergunto caro anônimo. Voce acredita mesmo que este PDL está preocupado com o bem estar e com a liberdade de escolha das pessoas homossexuais e dos “psicólogos”? Em vez disso porque essas mesmas pessoas não apoiam projetos afirmativos, a favor da tolerância, da educação, da não violência contra essas pessoas? Pura hipocrisia. Isso sim pode ser tratado e quica “curado”. Essa historia de liberdade é somente uma cortina de fumaça. O que se pretende de fato é tornar sem efeito partes da resolução que atrapalham a imposição de valores de um grupo que detém mais poder sobre outro.

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  21. Yasmim, vc expôs proveitosas colocações, mas ao meu ver, é uma idealista mais fanática que religiosos. Não aceitar estudar FATOS, e sim ignorá-los, é no mínimo postura de idealista, nunca de uma cientista. Ética para vc é escolher pelos outros? Se foi pra isso que me formei, rasgo meu diploma. É óbvio que o paciente não tem que ouvir apenas o que quer, mas também é óbvio que nós também não podemos falar somente o que queremos. Essa é a diferença. O conflito que vc sugere, nas entrelinhas, que é meu (que tenho "meu" conceito de liberdade, ou que me baseio em religião) - pelo jeito é teu. Porque baseada em ciência, vc não pode afirmar nada sobre o assunto.

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  22. Anônimo: concordo com vc e repito o que vc disse: a ciência serve as pessoas. Sinceramente, Freud se reviraria no caixão se soubesse desses preconceitos ideológicos e desses cientistas parciais, em pleno século XXI.

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  23. Yasmim: Você acredita mesmo que este PDL está preocupado com o bem estar e com a liberdade de escolha das pessoas homossexuais e dos “psicólogos”?
    Resposta: Mesmo que a intenção seja diferente da divulgada, ela ajuda SIM na liberdade do tratado e do tratador.

    Yasmim: Em vez disso porque essas mesmas pessoas não apoiam projetos afirmativos, a favor da tolerância, da educação, da não violência contra essas pessoas?
    Resposta: Será que não aponham? Até onde eu sei e acompanhei até torcedores esse povo tentou ajudar... De índio.... etc

    A diferença entre ler o que está nas matérias e realmente acompanhar o que acontece é diferente. Projetos de Lei... Emendas... Votações de MPs... TST, STJ, STF... tudo tem divulgação em seus sites e tal. Mas gostamos mesmo é do jornal/revista sensacionalista que dependendo do autor/editor pode transformar qualquer pessoa em santa ou o próprio DIABO. Só entende mesmo o poder dessa resolução o psicólogo que sofre processo ético no CFP e o paciente que ouviu um NÃO bem grande do psicólogo.

    Hipocrisia de quem? Vamos lá testar a hipocrisia.

    1º Não há verdade científica sobre o caso. Aliás, nunca terá. Nas ciências biológicas o que serve para um, pode não servir para o outro. Se não, não precisaríamos do leite de cabra concorda?

    2º Existe uma diferença enorme entre gays e militantes gays. O Gay quer ser feliz e acabou. O militante quer inventar mais preconceito do que realmente existe. Temos aí casos em que um gay disse ter apanhado por homofobia e tal... foi parar na TV e depois da investigação se provou através de câmeras e testemunhas que só apanhou porque se jogou em cima de outra pessoa, mesmo ela tendo rejeitado as provocações. Isso prova o que essa militância vem conseguindo, que é dar mais uma pena a quem supostamente agrediu primeiro. Querem fazer acreditar que gays só sofrem por serem gays... para eles pouco importa se o cara é um safado, mas se apanhar vão dizer que ele é um perseguido... fala sério né?

    3º Esses militantes de causa não acreditam (ou fingem não acreditar) nos ex-gays. Os chamam de mentirosos, de enrustidos, e cabe aqui ressaltar que essas afrontas aos ex-gays são recheadas de deboches e preconceito. Para eles a ciência só vale se for a favor, se for para dizer que há 0,00000001% de chance de regressão vão dizer que é mentira. Ninguém muda uma condição se não quer mudar. Quem fuma não para da noite para o dia. Quem comete autoflagelo talvez não goste disso. Quem rouba talvez não precise. Quem não gosta de tal pessoa talvez só não a conheça direito. Alguém ouviu alguém dizer que um ex-gay se tornou ex sozinho? Sem apoio de nada ou ninguém?

    O preconceito existe de muitas maneiras, e é sempre usado como pretexto para tudo hoje em dia, Todo mundo quer ser coitado.

    A discussão foge sempre para temas ideológicos, mas o que importa TEM QUE SER A MELHORA DO PACIENTE QUE QUER SER AJUDADO. Ninguém é obrigado a nada, e se alguém quer ser gay, que continue, só não fique JULGANDO quem não quer ser.


    Mas se eu não sei como fazer algo, não diga que é mentira, indique alguém que saiba. A Psicologia tb tem especialidades. É falta de ética tentar fazer algo que não sei, e se eu não acredito, antes de tentar em uma cobaia, tente procurar os casos já resolvidos e acompanhar seu desenvolvimento. Ninguém chega na lua se não tentar. E no caso, a ciência tem que ser feita para as pessoas, e não por ideologias.

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  24. Quanto comentários desnecessários. O CFP não proíbe os psicólogos a acolherem os sofrimentos de seus clientes sendo eles homossexuais ou heterossexuais. O que o CFP é contra as aplicações de técnicas que induzem a reversão do que o indivíduo é. Acolher o sofrimento e ajudá-lo a vivenciar de forma autônoma e consistente é papel fundamental do psicólogo. É um erro citar como verdade um autor pautado naquilo que ele acredita, como foi o caso da psicanalista Regina Navarro. Temos diversidades e não escolhas... E se procuram para serem "curados" é porque não conseguem conviver com tanta intolerância que a sociedade impõe, seja na família, nas instituições religiosas, no mercado de trabalho e entre outras...

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  25. Infelizmente, anônimo, não é tão simples assim. Creio que a maior razão para uma pessoa estar insatisfeita com sua orientação sexual seja, sim, a aceitação perante a sociedade, mas a discussão não é essa. Se ele deseja uma reorientação, ele tem esse direito, mas o CFP é contra o exercício profissional do psicólogo que realize uma terapia nessas condições ou uma terapia que objetive essa reorientação. Mas e se o paciente quer? E se temos inúmeros casos de sucesso, inegáveis? Colega, o CFP não tem o direito de dizer o que o paciente deve decidir, tampouco o psicólogo. Há casos possíveis sim, chega de negar, chega de ignorar. Nenhum conselho de psicologia do mundo proibe este tipo de atendimento, sabe por que? Porque isso não existe, não há embasamento científico para isso! Quanto a psic. Regina, não escrevi no que ela "acredita", são teses cientificamente fundadas, inclusive explanadas em seus livros.

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  26. Queria pedir um favor aos colegas psicólogos: por favor, parem de disseminar o termo "cura" atrelado a esse projeto, pois isso demonstra ignorância dos senhores em relação ao mesmo. Isso é uma mentira cretina da mídia, ao menos, demonstrem saber do que se fala.

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  27. Pois é... no fim o projeto foi arquivado a pedido do próprio autor. Um fiasco. Portas fechadas ao charlatanismo. Ao menos por enquanto. Enquanto isso poderiam ir tentando reverter a heterossexualidade, uma vez que isso não é expressamente vedado por resolução do CFP. Afinal, tanto a homo, como a bi, a pan, a trans... e tudo mais deve ter a mesma origem e constituição subjetiva.

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